quarta-feira, 15 de agosto de 2012
Recuo na pecuária gaúcha
Com a seca e os altos preços da soja, especialistas preveem redução no nascimento de terneiros
A previsão de novo avanço da soja sobre áreas de várzea e de pastagens na Metade Sul, na Metade Norte e nos Campos de Cima da Serra na safra 2012/2013, impulsionado pelo alto preço, reforçará reflexos que serão sentidos a partir de setembro nos nascimentos de terneiros, que devem recuar até 20% na comparação a 2011, quando a soja avançou em 36 mil hectares. Além de a agricultura abocanhar áreas de pecuária, esse recuo será influenciado pela estiagem. Segundo especialistas, as vacas que irão parir na Primavera se alimentaram de pastagens de baixa qualidade. Uma avaliação preliminar do Irga aponta até 300 mil novos hectares com a oleaginosa em áreas de arroz. O rebanho de bovinos vem na descendente no Estado. Do ano passado para cá, a redução foi de 2,75% para 13,58 milhões de cabeças. O professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), José Piva Lobato, acredita que, com a empolgação com a soja, muita gente não estará disposta a esperar por até 18 meses entre gestação, desmame e engorde para obter um terneiro para abate. "Se as vacas saírem da coxilha, terão que competir com o reflorestamento, onde a área será menor e a qualidade do solo é baixa. E o que fazemos com os frigoríficos que já estão com subabate?"
A situação deve se agravar em 2013, caso se confirme o acréscimo de áreas com soja, aposta Pedro Marques, do Nespro/Ufrgs. "Com menor área, cai produtividade e menor será o número de vacas acasaladas." Em consequência da menor oferta de terneiros, o preço deve subir. Neste outono, o Estado registrou R$ 4,10 pelo quilo do terneiro, contra R$ 3,80 da temporada passada.
Para manter a produção de terneiros, Marques prega a intensificação da integração lavoura/pecuária, com ajuste na carga animal. Hoje, considerando cada unidade animal de 450 quilos, a média de ocupação é de 0,99 unidade por hectare, quando poderia ser entre 0,5 a 0,7 por hectare. "Com o alto preço das commodities, o confinamento não é solução porque encarece, mas os grãos podem ser usados como suplementação no caso de preço favorável."
Lobato sugere a redução da idade para abate do gado e a antecipação do primeiro serviço. Ele observa que o rebanho gaúcho tem 1,33 milhão de novilhas de 25 a 36 meses, sendo que 9,78% não emprenharam com dois anos. "A cada cem vacas, temos 55 terneiros, isso quer dizer que 45 fêmeas não cumpriram o seu papel." Para o presidente da Federacite, Carlos Simm, diferentemente da Campanha, onde há limite para plantio devido ao zoneamento agrícola, no Norte e nos Campos de Cima da Serra, há vocação agrícola e solo adequado para soja, milho e trigo. Ele pondera que as vacas que produzem terneiros estão sempre nas periferias dos campos, que não têm a mesma qualidade, com menor oferta de forrageiras. "Na verdade, pela baixa qualidade, seriam necessárias mais áreas em hectares para a mesma quantidade de vacas."
Fonte: Correio do Povo
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