segunda-feira, 1 de julho de 2013

Chuvas podem reduzir produção de açúcar do centro-sul--Unica




A produção de açúcar do centro-sul do Brasil na temporada 2013/14 poderá ficar abaixo das estimativas iniciais da indústria, em função das recentes chuvas que afetam o teor de sacarose da cana, levando a uma maior produção de etanol, disse nesta quinta-feira o diretor-técnico da associação que reúne as usinas, a Unica.

"Toda vez que chove, tem um aumento da produtividade agrícola... De um lado, se tem menos quilo de ATR (teor de açúcar recuperável), de outro se tem mais tonelada de canapor hectare", disse o diretor-técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues, em entrevista a jornalistas durante o Ethanol Summit, realizado em São Paulo.

A cada vez que a moagem para por conta das chuvas, na retomada das atividades as indústrias costumam produzir mais etanol por conta da diminuição da ATR. Além disso, com os preços do etanol relativamente mais vantajosos, o biocombustível tende a ganhar espaço na produção.

A estimativa mais recente da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) apontou a produção de açúcar na atual temporada (2013/14) no recorde de 35,5 milhões de toneladas, acima das 34 milhões de toneladas do ciclo anterior.

O diretor-técnico, porém, não deu uma nova estimativa para a produção de açúcar, dizendo apenas que o comportamento do clima nos próximos três meses será fundamental para definir o "mix" de produção --percentual de cana destinado ao etanol e ao açúcar-- na atual temporada.

Por conta disso, ele considera que ainda é cedo para fazer uma revisão no número de moagem na atual safra, apontado em quase 590 milhões de toneladas, versus os 532,8 milhões de toneladas do ciclo anterior.

"Eu diria que agora tem mais cana, o que pode acontecer é não moer toda a cana... Se tiver menos moagem, isso vai implicar provavelmente em uma redução de açúcar e não necessariamente na produção de etanol. Hoje se vê claramente que o mix está muito mais alcooleiro do que açucareiro", acrescentou Padua.


Atento às chuvas

A presidente da Unica, Elizabeth Farina, disse mais cedo durante o evento que a indústria sucroalcooleira do centro-sul acompanhará de perto o efeito da chuva sobre a safra na região, mas ressaltou que, apesar dos prejuízos para a colheita, o clima úmido atual favorece o desenvolvimento dos canaviais.

"A chuva tem impactos positivos também. Ela impede que você faça a colheita hoje, mas se tem um desenvolvimento melhor das plantas ao longo da safra. O que pode acontecer é mudar o momento da colheita... Isso tudo depende do acompanhamento", disse a presidente da Unica também em conferência com jornalistas.

A moagem de cana-de-açúcar no centro-sul do Brasil na primeira quinzena de junho foi prejudicada pelas chuvas, assim como ocorreu na quinzena anterior.

Ela reafirmou que o cenário atual reforça a estimativa da Unica de que o setor venha a ter um ano mais "alcooleiro", ou seja, com mais cana sendo destinada à produção de etanol do que de açúcar.

A executiva ressaltou que o setor trabalha com um cenário de crescimento da demanda poretanol, o que exigirá investimentos na ampliação de capacidade, mas ponderou que as empresas com problemas financeiros enfrentam dificuldades para ter acesso a recursos como os do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Ela estimou que cerca de 30 por cento das usinas do setor podem não ter acesso aos recursos do BNDES por conta das dificuldades financeiras enfrentadas pelo setor desde 2008, ano da crise financeira.

Farina lembrou que, desde 2008, foram fechadas cerca de 40 usinas, resultando na perda da capacidade de moer 46 milhões de toneladas. Mas observou que, no mesmo período, a Unica contabilizou que foram adicionadas cerca de 120 milhões de toneladas. A executiva não especificou se o acréscimo era oriundo de novas usinas ou projetos de expansão.

Para ela, o setor precisa sim de regras mais claras sobre a formação de preços dos combustíveis, o que acabaria estimulando mais investimentos no setor. Ela defendeu ainda uma reivindicação do setor de taxação do combustível fóssil como forma de estimular o biocombustível.

Fabíola Gomes com reportagem adicional de Caroline Stauffer
Fonte: Reuters

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