quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

É hora de encher o tanque?




Nos últimos 12 meses, o valor de mercado da Petrobras, maior empresa brasileira e principal ação negociada da bolsa de valores, caiu 29% em termos reais. A queda foi tão acentuada que, na segunda-feira 28, a estatal perdeu o posto de empresa latino-americana com maior valor de mercado para a colombiana Ecopetrol, embora a produção de petróleo da companhia brasileira seja três vezes maior que a da colombiana. A causa de tamanha queda na capitalização foi a demora da Petrobras em reajustar os preços dos combustíveis no mercado interno. Na terça-feira, 29 de janeiro, o reajuste dos preços dos combustíveis - longamente negociado com o governo e aguardado ansiosamente pelos investidores - finalmente saiu.

A estatal informou que, a partir da zero hora do dia seguinte, a gasolina ficaria 6,6% mais cara, enquanto que os preços do diesel subiriam 5,4%. A reação dos investidores foi negativa. No primeiro pregão após o anúncio, as ações preferenciais da estatal caíram 4,7% e fecharam no menor nível desde outubro de 2011, cotadas a R$ 18,20. O que desagradou aos acionistas foi o percentual do reajuste, que ficou abaixo do esperado. Os prognósticos oscilavam entre 7% e 10%. Desde junho de 2012, quando anunciou seu plano de negócios para o período de 2012 a 2016, a Petrobras vem comunicando a defasagem nos preços dos combustíveis e a necessidade de aumentá-los para cumprir com seus objetivos.

Naquela ocasião, a presidenta da companhia, Graca Foster, chegou a dizer que a cotação elevada do óleo no mercado internacional e a necessidade de mais importações para fazer frente ao consumo aquecido faziam a estatal perder cerca de R$ 2 bilhões por mês, e que não daria mais para a Petrobras segurar os preços dos combustíveis. No plano de negócios, havia a previsão de um reajuste de até 15% Os analistas esperavam mais, daí a queda nas cotações. Pelas estimativas dos profissionais que acompanham a empresa, ainda resta uma defasagem de 13% no preço da gasolina e de 24% no do óleo diesel. Mesmo assim, boa parte dos especialistas avalia a notícia como positiva. A correção dos preços deve render uma receita adicional de R$ 600 milhões por mês à estatal.

Segundo Marcus Sequeira, analista do Deutsche Bank, o desapontamento do mercado é natural, mas a decisão não é negativa. "Tudo que aumentar o fluxo de caixa da Petrobras é bem-vindo", afirma Sequeira. De acordo com análise da Citi Research, departamento de pesquisa do Citibank, a expectativa é de que o aumento nos preços acrescente R$ 6,5 bilhões à geração de caixa medida pelo Ebitda e eleve os lucros em R$ 4,3 bilhões no exercício de 2013. Nataniel Cezimbra, analista do BB Investimentos, concorda que o aumento poderia ser maior, mas é otimista quanto aos resultados futuros da companhia. "Acreditamos em uma estabilidade nos preços do barril de petróleo, em uma menor volatilidade do câmbio e em um aumento importante no consumo dos combustíveis", afirma.

"Isso nos deixa mais confortáveis com os resultados ao longo de 2013." Nem todos os analistas, porém, estão tão confiantes. Para alguns profissionais do mercado, o reajuste é insuficiente. "Esse percentual não resolve as pressões sobre o caixa da Petrobras, que surgem da importação com revenda subsidiada", diz Karina Freitas, analista-chefe da corretora Concórdia. Paula Kovarsky, do Itaú BBA, esperava um aumento de 10% na gasolina. Para ela, o percentual inferior ao esperado deve ser creditado à inflação. "As atuais expectativas de inflação provavelmente vão impedir novos aumentos de preços em 2013 e, em 2014, o movimento é ainda menos provável, devido às eleições presidenciais", afirmou a analista, em relatório.

Outra preocupação dos analistas é com um eventual aumento das necessidades de a Petrobras aumentar seu endividamento, o que poderia prejudicar sua classificação de risco e tornar mais cara a captação de recursos, reduzindo a capacidade de cumprir seu plano de investimentos. Para atenuar os efeitos no bolso do consumidor, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, informou, no mesmo dia do anúncio do reajuste, que o governo decidiu antecipar de 1º de junho para 1º de maio o aumento da mistura de etanolna gasolina de 20% para 25%. O que fazer? Comprar ações, aproveitando a queda, vendê-las tendo em vista os prognósticos mais pessimistas ou nenhuma das alternativas anteriores?

A decisão depende de cada um e de sua estratégia ao longo do tempo. Os analistas concordam que o reajuste anunciado, se for o único do ano, não será suficiente para cobrir as perdas da Petrobras. Dos seis consultados, dois recomendam a compra dos papéis, três indicam manutenção e um sugere a venda das ações da estatal (veja quadro). No entanto, apesar do reajuste magro, a empresa vem investindo pesado, algo essencial em um setor em que os projetos demoram vários anos para maturar. No ano passado, as 73 empresas estatais pertencentes ao governo federal investiram R$ 98 bilhões, um crescimento de 18,8% ante 2011, segundo um levantamento da organização não governamental Contas Abertas. A Petrobras liderou esse movimento e investiu R$ 85,9 bilhões, avanço de 13,8% em relação aos R$ 75,5 bilhões de 2011. Faça sua escolha.

Patrícia Alves
Fonte: Portal IstoÉ Dinheito

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