Estimativas indicam produção entre 4% e 7% acima da registrada na última safra, índices insuficientes para reduzir os preços do etanol
A colheita da cana-de-açúcar vai deslanchar só em abril, duas semanas depois do esperado, e deve crescer entre 4% e 9% em relação à última temporada, conforme as primeiras estimativas privadas sobre o ciclo 2012/13. O Centro-Sul do país, que concentra os canaviais, terá safra 4,2% maior, informa a Associação dos Produtores de Bioenergia do Paraná (Alcopar). Levantamento da Agroconsult com 60 usinas divulgado ontem indica que o índice pode chegar a 9%. O mercado esperava um avanço de 11%, considerando o potencial da demanda e a expectativa de novos investimentos.
As estimativas mostram que a produção deve ficar entre 515 milhões e 540 milhões de toneladas, pelo menos 3% abaixo do volume recorde registrado duas safras atrás. Ou seja, o avanço não garante a retomada da linha de crescimento contínuo que vinha sendo traçada até então nem o barateamento do álcool nas bomas nos próximos dois anos. A falta de renovação dos canaviais, mais uma vez, e a estiagem são apontadas como principais entraves.
“Para atender a demanda, com o aumento da frota de veículos, é necessário haver expansão industrial e agrícola”, afirma o presidente da Alcopar, Miguel Rubens Tranin. Ele calcula que o país deveria estar produzindo ao menos 20 milhões de toneladas a mais. “Estamos atuando no limite entre a oferta e a demanda. Com esse aumento na produção, conseguiríamos tranquilidade, sem necessidade de importação”, avalia. No ano passado, o Brasil exportou 1,7 bilhão e importou 1,5 bilhão de litros de etanol.
Levantamentoda Archer Consulting apontava, em 2011, para a necessidade de expansão de 10,8% na safra 2012/13. A necessidade de investimentos foi calculada em US$ 9,2 bilhões, incluindo 12 novas usinas. O gestor de Riscos e diretor executivo da Archer, Arnaldo Luiz Correa, assume que essa projeção levava em conta fatores que não se concretizaram: o aumento da produção de carros flex e a proporcional elevação do consumo de etanol.
Por outro lado, o crescimento da frota de veículos perdeu ritmo, mas a procura por álcool foi limitada pelos preços, que seguem acima do teto de 70% do valor da gasolina na maior parte do país, conforme o diagnóstico do especialista. O crescimento da produção é vegetativo em todos os sentidos, de acordo com Correa. “Algumas usinas não crescerão nada.”
Máquinas seriam prova do novo ciclo
A previsão de aumento na produção de cana-de-açúcar baseia-se não só no clima, na renovação dos canaviais ou nos investimentos nas indústrias. Segundo Ana Thereza da Costa Ribeiro, presidente do Sindicato Rural de Porecatu – Norte do Paraná, uma das regiões que mais planta cana no estado – , uma nova realidade começa a surgir com a mecanização da colheita nos canaviais, que eleva custos mas promete retorno.
“Estamos no limiar entre o processo antigo e a colheita mecânica, adotada inclusive pela falta de mão de obra”, comenta Ana Thereza. Ela observa que o setor está se recuperando de três anos de preços “ruins” e vislumbra um momento melhor a partir de agora.
“Estamos repondo as perdas dos últimos anos, com o desafio de aumentar o plantio e renovar os canaviais. A usina [com áreas próprias ou arrendadas] está melhor preparada do que o produtor para investir em renovação de canaviais”, avalia. Na Região Noroeste do Paraná, maior polo canavieiro do estado, a idade dos canaviais seria de 6 anos – 1 ano além do limite técnico.
Mesmo nesse cenário, a cana-de-açúcar é considerada melhor negócio que a soja em boa parte do Norte e do Noroeste. As perdas são menos severas do que as registradas nas áreas de grãos quando ocorrem secas como a dos últimos meses. Preços acima de R$ 60 por toneladas são considerados remuneradores.
Plano nacional não empolga o setor
Para estimular a renovação de 6,4 milhões de hectares até 2015, dois terços do total, o governo lançou em fevereiro o Plano Estratégico do Setor Sucroalcooleiro. Divulgado pelo Ministério da Agricultura, o “plano safra da cana” promete impacto direto nos preços do etanol. A proporção da frota de veículos circulando com o combustível teria condições de passar de 50% para 55% com as novas medidas. Porém, não empolga a cadeia produtiva.
Para a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), o plano não trouxe novidades. A instituição prefere inclusive não emitir avaliações sobre as medidas.
O presidente da Associação dos Produtores de Bioenergia do Paraná (Alcopar), Miguel Rubens Tranin, diz que o plano atende reivindicações do setor. “Temos que acompanhar agora em que velocidade essas medidas serão colocadas em prática, se haverá entraves para os recursos”, pondera. Segundo ele, as indústrias operam ociosas e podem receber produção maior. Seriam necessários investimentos que fossem além dessa ociosidade. “Esperamos resultados até 2020.”
Para o gestor de Riscos da Archer Consulting, Arnaldo Luiz Correa, as medidas anunciadas, em relação aos investimentos, por exemplo, “não vão ter efeito”. Ou seja, não estimulam, por si só, os projetos de longo prazo. Os valores disponibilizados passam de R$ 1 mil por hectare, mas o setor estaria se pautando pelas cotações do mercado e pela rentabilidade dos investimentos.
Fonte: Gazeta do Povo
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