quarta-feira, 8 de maio de 2013

Colheita de inverno de milho bate recorde e desafia exportação

Colheita de 40,6 milhões de toneladas faz da “safrinha” uma “safrona” capaz de elevar estoques a 16 milhões de toneladas, volume jamais atingido

Os agricultores brasileiros apostaram alto e estão prestes a retirar do campo mais uma produção recorde de milho de inverno: 40,6 milhões de toneladas. A estimativa é da Expedição Milho Brasil, um projeto inédito idealizado pelo núcleo de Agronegócio da Gazeta do Povo, consultoria INTL FCStone e Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA) que percorreu os cinco principais estados produtores da segunda safra do cereal nas últimas semanas.

A colheita do grão, que deve começar no próximo mês, supera pelo segundo ano consecutivo o volume produzido no verão, deixando o termo “safrinha” no passado. No campo, a colheita de inverno ganhou um apelido mais condizente com a realidade – “safrona”.

Em Mato Grosso, Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás e São Paulo analistas, técnicos e jornalistas conferiram que as expectativas de produção são otimistas. E não por acaso. Com os ganhos do inverno passado, os agricultores colocaram em prática a receita de alta produtividade. Adubaram muito bem os solos e a maior parte usou sementes de ponta. E o clima tem colaborado. As regiões que precisam de chuva nesta semana ainda podem alcançar rendimentos iguais ou até superiores aos do ano passado.

No Paraná, segundo maior produtor nacional da cultura, choveu no último final de semana em boa parte das áreas secas. “A chuva veio em boa hora. Agora, é esperar que os dias mais frios não nos prejudiquem”, diz o estudante de agronomia Pedro Versari, que trabalha com o pai David em uma propriedade com 600 hectares plantados com milho de inverno em Itambé (Centro-Oeste do estado). Eles esperam 82 sacas por hectare, mesma média de 2012.

Desafio

De outro ângulo, a projeção de safra acende o sinal de alerta para o Brasil, que tem o desafio de aumentar suas exportações num ano de consumo interno estável, recuperação dos maiores produtores e fornecedores globais – os Estados Unidos –, e de vendas antecipadas fracas. A comercialização do grão de inverno segue em ritmo 50% menor do que nesta época do ano passado, constatou a Expedição Milho.

Ao todo, o Brasil vai despejar 76,88 milhões de toneladas de milho no mercado, considerando as produções de verão e inverno. Com uma demanda doméstica de 52 milhões de toneladas, o ano deve terminar com mais de 16 milhões de toneladas em estoque, o maior da história. Como agravante, o atraso que vem ocorrendo nos embarques da soja desde o início do ano deve atingir também o mercado do cereal. “O milho só deve começar a ser escoado [para o exterior] a partir de agosto e setembro, o que preocupa muito, porque vai ser a mesma época em que os Estados Unidos começam a sua colheita”, destaca Otávio Celidônio, superintendente do Imea. De acordo com levantamento realizado pela consultoria FCStone, “de fevereiro a abril, as exportações da safra 2012/13 acumulam 4,5 milhões de toneladas, representando 30% dos 15 milhões previstos para todo o ciclo.”

Além da realização do Agronegócio Gazeta do Povo, FCStone e Imea, a Expedição Milho Brasil tem apoio do Sicredi, Montana e Perfipar. O projeto percorreu 7 mil quilômetros de estradas.

EUA entram em foco

Se no campo o clima é de euforia com os resultados do milho de inverno, no mercado o momento é de cautela. Com apenas uma pequena parcela da produção comercializada, os produtores aguardam uma definição sobre os rumos da próxima safra norte-americana. Uma ideia mais clara sobre como deve ser a próxima temporada nos Estados Unidos será divulgada nesta sexta-feira, quando o USDA, o departamento de Agricultura do país, publica seu primeiro relatório de oferta e demanda para o ciclo 2013/14.

As projeções iniciais do governo norte-americano mostram que o país pretende recuperar os prejuízos sofridos com a seca no ano passado semeando áreas recordes neste ano. Em março, o USDA estimou que o milho cobriria 31,2 milhões de hectares e que outros 39,4 milhões de hectares seriam destinados à soja. É a partir desses dados que o órgão calcula, agora em maio, o tamanho da safra de grãos do país. Considerando clima normal e produtividades na linha de tendência, o potencial seria para mais de 90 milhões de toneladas de soja e 370 milhões de toneladas de milho.

Com apenas 2 milhões de hectares (5%) plantados até agora, o mercado questiona se os produtores terão tempo de semear toda a área planejada para o cereal. E, mesmo que consigam, não se sabe até que ponto o plantio tardio irá comprometer o desempenho das lavouras. Plantadeiras gigantes de até 16 linhas permitem que, com tempo bom, o plantio avance cerca de 30 pontos por semana. Com chuvas em excesso, parte dos produtores cogita remanejar para a soja áreas inicialmente programadas para o milho.

Simulação feita pelo Agronegócio Gazeta do Povo mostra que, mesmo que o plantio do cereal recue 5% em relação ao projetado pelo USDA em março, e que a produtividade média das lavouras fique 7% abaixo da linha de tendência, os EUA encerrariam a temporada 2013/14 com estoques 40% maiores que os do ciclo anterior. Isso considerando demanda (consumo doméstico + exportações) 10% maior.

Geada precoce preocupa no PR

Depois que boa parte das regiões paranaenses que precisavam de umidade receberam chuvas no último final de semana, a preocupação se direcionou para a formação de geada. A previsão aponta para a ocorrência do fenômeno nesta semana nas áreas mais altas do Oeste do Paraná. O Noroeste e Norte não devem ter problemas, afirma o meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Luiz Renato Lazinski. “As madrugadas mais frias devem ser de quarta e quinta-feira”, avisa. De acordo com o especialista, chuvas estão previstas para o estado a partir da próxima semana, quando também deve haver nova queda dos termômetros.

O risco de perdas de milho por frio excessivo está restrito ao Sul do país. Em Mato Grosso, é a seca que preocupa. Neste ano, porém, maior parte dos produtores conseguiu escapar da quebra. Ezequiel Lara, de Sorriso (Médio-Norte), que esperava mais duas chuvas para confirmar alta produtividade na temporada, viu o retorno da umidade um dia depois da equipe da Expedição visitar sua lavoura. Ele acredita que pode superar o índice do ano passado (113 sc/ha).




Gazeta do Povo

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