quarta-feira, 21 de novembro de 2012
Bird alerta contra aquecimento global
Os mais pobres sofrerão mais e o desenvolvimento será impossível sem levar em conta políticas para se adaptar à mudança climática. Essas são as principais conclusões de um estudo a ser divulgado hoje pelo Banco Mundial (Bird) sobre o que pode acontecer no mundo se a temperatura média global, em 2100, aumentar 4°C.
O relatório detalha mais os possíveis cenários de catástrofes: ondas de calor extremo durante quase todos os meses de verão em muitas regiões da Terra e o mar inundando cidades em Moçambique, Madagascar, México, Venezuela, Índia, Bangladesh, Indonésia, Filipinas e Vietnã. A agricultura, os recursos hídricos, a biodiversidade e a saúde das pessoas serão gravemente afetados. A segurança alimentar estará ameaçada. Deverão ocorrer deslocamentos populacionais em larga escala.
Isso é o que diz o estudo feito por pesquisadores dos centros Potsdam Institute for Climate Impact Research (PIK) e Climate Analytics, respondendo à solicitação do Banco Mundial.
"O mundo caminha rapidamente para ficar até 4 graus mais quente no final deste século se a comunidade internacional global não tomar medidas em relação à mudança do clima, o que desencadeará uma série de alterações incontroláveis", avisa o relatório que sai poucos dias antes do início de mais uma rodada de negociações por um tratado climático internacional. O encontro acontece em Doha, no Qatar, no fim do mês.
"Turn Down the Heat: why a 4°C warmer world must be avoided", chama-se o relatório - "Reduza o Aquecimento: por que um mundo 4°C mais quente deve ser evitado" -, que menciona as incertezas sobre os impactos de um mundo mais quente, mas é rico em detalhes do que pode acontecer. Doenças e poluentes podem ser espalhados pela rede de água no caso de inundações, por exemplo. "Simplesmente não podemos permitir que a previsão de mais 4°C aconteça", conclui o trabalho.
"O estudo revela, em primeiro lugar, que a ciência é inequívoca", disse o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, antes de começar a listar o que já está acontecendo: a temperatura global média já aumentou 0,8 °C em relação aos índices pré-industriais e os oceanos aqueceram 0,9 °C desde 1950. Kim lembrou que as promessas que existem hoje, de corte de emissões de gases-estufa feitas pelos países, levam o planeta a uma trajetória de aquecimento de 3°C em 2100, mesmo se cumpridas à risca.
"Sabemos que a meta de chegar a 2°C de aquecimento adotada pela comunidade internacional já trará sérios danos e riscos, particularmente aos países mais pobres e vulneráveis", disse o coreano que assumiu o Banco Mundial em julho, depois de ter sido indicado pelo presidente Barack Obama.
A onda de calor que a Rússia sofreu em 2010 e que causou milhares de mortes, quebra de 25% da safra e perdas de US$ 15 bilhões, fenômeno que deveria ocorrer raramente, será "a nova rotina" em algumas partes do mundo, exemplifica o relatório. Nesse cenário, o nível do mar pode subir de 50 a 100 centímetros até 2100. A única forma de evitar processos que podem ser irreversíveis é "quebrar com os padrões de produção e consumo da era dos combustíveis fósseis", afirmou Hans Joachim Schellnhuber, diretor do PIK.
Daniela Chiaretti
Fonte: Valor Econômico
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