quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Filme vira adversário de petrolíferas




A estreia de um filme de Hollywood que aborda o fraturamento hidráulico está a meses de distância, mas a indústria do petróleo já se prepara para a batalha.

Em "Promised Land" ("Terra Prometida", em tradução livre), Matt Damon interpreta o papel de um vendedor de uma produtora de gás natural que tenta alugar direitos de exploração na zona rural do Estado da Pensilvânia, onde o fraturamento hidráulico, ou "fracking", tornou-se uma técnica difundida, ainda que polêmica, para extrair gás natural de depósitos de xisto argiloso.

Receosas de que o filme mostrará o fraturamento sob um viés negativo, empresas do setor estão preparando respostas que poderiam incluir bombardear os críticos de cinema com estudos científicos, distribuir panfletos e montar um "esquadrão da verdade" no Twitter e no Facebook.

"Temos que responder às preocupações que são levantadas nesses tipos de filmes", disse Jeff Eshelman, porta-voz da Associação Independente de Petróleo da América, que representa as companhias petrolíferas.

Os produtores do filme dizem que não têm uma posição sobre o fraturamento e observam que o filme só estreará nos EUA em 28 de dezembro (ainda não há data de estreia no Brasil).

"Nós ficamos surpresos com o surgimento do que parece ser uma campanha coordenada contra o filme antes mesmo de alguém assisti-lo", disse James Schamus, diretor-presidente da Focus Features, unidade da NBC Universal, da Comcast, que produziu e vai distribuir "Promised Land" em colaboração com a Participant Media. O filme foi escrito por Damon e pelo ator John Krasinski e é dirigido por Gus Van Sant.

A Image Nation, que tem uma participação do governo de Abu Dhabi, financiou o filme através de um acordo envolvendo vários filmes da Participant. A Image Nation afirmou que investe em filmes da Participant "independentemente do gênero e do tema".

A Participant é especializada em filmes sobre assuntos de interesse público, como o documentário climático "Uma Verdade Inconveniente", do ex-vice-presidente americano Al Gore, e cria campanhas de "ação social" para seus filmes, desde dicas para economizarenergia até maneiras de ajudar os veteranos das forças armadas. O website da divisão digital do estúdio abriga dezenas de ´posts´ sobre o fraturamento, a maioria oposta à prática.

"O fraturamento é o catalisador para uma história maior sobre os complexos desafios diante das pequenas cidades" dos Estados Unidos, disse o diretor-presidente da Participant, Jim Berk, em um comunicado preparado. O filme pretende "aumentar a compreensão da importância da transparência e de regulamentações para a saúde e a segurança do público", disse ele.

O fraturamento consiste em bombear milhões de litros de água misturada com areia e químicos dentro de um poço para quebrar o xisto e permitir que o petróleo e o gás fluam para fora. A técnica ajudou a gerar um ´boom´ de produção de petróleo e gás nos EUA, mas também provocou temores no público sobre o impacto na água potável e qualidade do ar.

O documentário da HBO "Gasland" ("Terra do Gás"), que aborda a questão do impacto ambiental do fraturamento, foi indicado para o Oscar de 2011. A indústria petrolífera inicialmente subestimou o efeito do filme, mas recentemente aumentou seus esforços para desacreditá-lo.

A associação de petrolíferas produziu seu próprio documentário, "Truthland" ("Terra da Verdade") e começou a exibi-lo em junho em centros comunitários e hotéis em todos os EUA.

Josh Fox, que criou "Gasland" e está filmando uma continuação, disse que as iniciativas de relações públicas estão erradas. "O problema é que eles estão em um estado de negação, e usando de relações públicas para lidar com problemas técnicos e de engenharia reais", disse. Ele acrescentou que os problemas não podem ser resolvidos.

As companhias de petróleo discordam disso, mas vêm procurando cada vez mais rebater receios sobre a perfuração.

Exxon Mobil, Chevron e ConocoPhillips, todas fizeram campanhas publicitárias nos últimos dois anos que promovem os benefícios econômicos e ambientais do gás natural e defendem o fraturamento como sendo seguro.

Daniel Gilbert
Fonte: The Wall Street Journal

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