segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Sem etanol no tanque




A safra de cana-de-açúcar na temporada 2012/2013 será pelo menos 6,5% maior do que a do ano passado, devendo a produção ficar próxima de 600 milhões de toneladas.

Isso deveria sinalizar dias melhores para a produção de etanol, que há mais de dois anos sumiu da enorme frota brasileira de carros flex. Mas ninguém deve se entusiasmar.

Tudo indica que, em Minas e na maior parte do país, o consumidor ainda não terá o biocombustível a preços competitivos com os da gasolina, nem mesmo depois que o governo finalmente quebrar a política de segurar a inflação pela bomba dos postos de abastecimento, impedindo a correção dos preços do derivado de petróleo.

Essa é, aliás, a principal distorção provocada pelo governo no mercado interno de combustíveis, responsável pela falta de estímulo ao investimento na ampliação do parque industrial de produção doetanol a partir do açúcar.

Para evitar impactos sobre os preços da economia em geral, o governo manteve os preços da gasolina na fonte, isso é, nas refinarias da Petrobras, a despeito das variações das cotações internacionais do petróleo.

Com isso, o álcool perdeu competitividade com a gasolina, situação agravada nos dois últimos anos por perdas de produção de açúcar em países produtores, como a Índia, o que tornou esse produto mais interessante que o biocombustível.

Sem qualquer mudança à vista, esse cenário simplesmente desaconselhou não apenas a produção deetanol nas instalações já existentes no país como também inibiu totalmente a implantação de usinas para acompanhar a demanda.

Ao mesmo tempo, a indústria automotiva viveu fase de recordes de produção e vendas no mercado interno, ora estimulada pelo aumento da renda da população, ora por incentivos fiscais concedidos para manter o ritmo de atividade em meio à crise que abala a economia mundial desde 2008.

O primeiro resultado dessa política de desencontros foi o constrangimento de ver os Estados Unidos abrirem seu mercado ao etanol brasileiro - antiga reivindicação - em 2010, quando estávamos com os tanques vazios e, pior, obrigados a importar deles o produto que tínhamos a pretensão de vender e até desbancar o etanol norte-americano derivado do milho.

E como a frota de automóveis não parou de crescer, a Petrobras vem sendo obrigada a importar cada vez mais gasolina e etanol.

Reportagem de hoje do Estado de Minas revela que a importação de gasolina passou dos 17 mil barris por dia em 2010 para perto de 80 mil por dia este ano, gerando pressão exagerada sobre o caixa da estatal.

O aumento do preço da gasolina, a ser decidido em breve, diminui esse aperto da estatal, mas não resolve o problema da oferta do etanol, o que ajudaria a reduzir a demanda por gasolina.

Mas para atender a demanda da frota atual serão necessárias nada menos que 100 novas usinas no país e, para continuar crescendo a ponto de fazer divisas com o etanol, o país terá que retomar algo que, especialmente nesse setor, tem sido deixado de lado: a clara definição de objetivos e de planos de médio prazo para alcançá-los.

Medidas cosméticas como as adotadas até agora, não fazem mais efeito.

Editorial
Fonte: Jornal Estado de Minas

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