terça-feira, 14 de agosto de 2012

Corrida nos canaviais



corrida para a mecanização da colheita de cana-de-açúcar em São Paulo, acelerada pelo Protocolo Agroambiental, firmado em 2007 entre o governo do Estado e a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), para reduzir os prazos para a eliminação das queimadas nos canaviais de 2021 para 2014 (em áreas mecanizáveis), tem acirrado outro tipo de disputa no setor: a do mercado das máquinas colhedoras.

Há mais de uma década, o número de colhedoras de cana no Brasil não ultrapassava uma centena de unidades e a colheita dependia quase que exclusivamente da mão de obra. Hoje, é um mercado quase bilionário, calculando que o preço médio das máquinas é de R$ 800 mil, com uma vida útil de cinco anos.

As fabricantes estimam que, no ano passado, tenham sido comercializadas cerca de 1.000 colhedoras no país. Em 2010, o número de equipamentos vendidos no Brasil foi de quase 1.500. O volume quase 50% maior que em 2011 ocorreu, segundo as fabricantes, em função da crise de 2009, que interrompeu as compras por parte dos produtores eusinas.

Nesse cenário, duas das três principais montadoras disputam a liderança do mercado. Mas determinar com precisão o percentual de participação de cada uma é tarefa difícil. Entidades como a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e a Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas Agrícolas (Abimaq) não dispõem de dados sobre comercialização de colhedoras de cana.

Com base nas informações prestadas pelas próprias empresas, John Deere e Case dominam o segmento das colhedoras. A primeira avalia atualmente seu market share em 70%, enquanto a Case prevê participação em torno de 40%. A Santal, recentemente incorporada à Valtra, controlada pelo Grupo AGCO, não revela sua participação.

Neste ano, embora as empresas prevejam a venda de entre 850 e 1.100 máquinas, a corrida tende a ganhar novo fôlego. Primeiro, pela entrada da Valtra no mercado, que já contava em seu portfolio com todos os equipamentos para o plantio de cana e agora almeja um incremento das vendas das colhedoras. A empresa não revela quanto pretende crescer neste ano no segmento. “O que faltava para nós era entrar no mercado com uma colhedora, e por isso veio essa aquisição, para ofertar o pacote inteiro”, destaca o gerente comercial da Valtra, Alexandre Vinícius Assis. O segundo motivo – e não menos importante – está no empenho da Case em retomar a liderança do segmento de colhedoras, que perdeu para a John Deere em 2011, segundo a própria montadora. Isso porque o lançamento da série de colhedoras Case 8000 coincidiu com o momento da crise financeira de 2009, quando os potenciais clientes das máquinas congelaram seus investimentos em tecnologia e, consequentemente, registraram índices de produtividade abaixo da média dos anos anteriores.

Com motor mais potente, picador com 40% a mais de capacidade e consumo de combustível cerca de 5% maior, a linha de colhedoras lançada pela Case na época era destinada a áreas de produtividade acima de 100 toneladas por hectare, acima da média dos canaviais no período, que caiu de 80 toneladas por hectare para aproximadamente 60 toneladas, segundo levantamento da Unica. Para se readequar, a Case começou a fazer ajustes nos softwares das máquinas vendidas no ano passado. Investiu cerca de US$ 30 milhões em 2011 na mudança de tecnologia.




“O que aconteceu é que a máquina deu um pulo de consumo de combustível, e por isso a gente começou a perder participação de mercado”, explica o diretor comercial para o Brasil, César Martin Di Luca. “Fizemos alguns ajustes no motor eletrônico e conseguimos corrigir essa situação com o lançamento, no final do ano passado, de nosso sistemaSmart Cruz, que é um sistema eletrônico inteligente que ajusta as rotações no motor em função da demanda da colheita, sem necessidade de intervenção do operador”, explica.

Com a nova tecnologia, a aposta da empresa é acelerar as vendas para terminar 2012 com 50% de participação no mercado. “Aos poucos, teremos um crescimento para chegar a um nível estável de 1.200 máquinas vendidas por ano, variando em função do que aconteça com o clima, com a disponibilidade financeira, crescimento das usinas e abertura de novas áreas de canaviais”, destaca Di Luca.

Apesar de estipular uma situação de vendas de 850 colhedoras em todo o mercado em 2012 – expectativa um pouco menor que a das concorrentes – e a manutenção da liderança de mercado, a John Deere não arrisca apostar em um aumento na participação, mas quer garantir a permanência no topo com os alegados 70% do mercado.

O gerente de contas estratégicas para a América Latina da fabricante, Carlos Newton Graminha, justifica a previsão de volume de vendas neste ano, mais retraída que em anos anteriores, em função da atual fase do processo de mecanização. Só em São Paulo – responsável por mais de 70% da produção de cana do país –, a mecanização da colheita já ultrapassou a marca de 80% das usinas e 24% dos fornecedores na safra 2011/2012, segundo recente balanço do Protocolo Agroambiental da Cana-de-Açúcar, ou 65,2% de toda a cana plantada no Estado. Segundo Graminha, o mercado de cana pode crescer mais de 80% nos próximos oito anos e, até 2020, haverá necessidade de dobrar a produção. “O boom, a necessidade iminente de mecanizar, passou. A partir de 2012, o que se prevê é a substituição de máquinas e crescimento vegetativo. É um crescimento bem previsível, o mercado deve se estabilizar em 850 a 1.000 máquinas nos próximos três, quatro anos”, ressalta.


Fonte: Globo Rural

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