segunda-feira, 30 de abril de 2012
MT: Plantar é o mais fácil
Produção vai expandir, puxada por cenário positivo. Porém, pode explodir induzida pela infraestrutura
Se o produtor mato-grossense estivesse escoando hoje sua produção por meio da hidrovia Teles Pires-Tapajós estaria colocando no bolso R$ 8 a mais por saca de soja embarcada. Considerando as produções recordes da oleaginosa e do milho nesta safra, esse lucro resultaria em um impacto global de R$ 1,9 bilhão, cifras que se perdem atualmente e que poderiam estar circulando dentro do Estado apenas por meio da economia direta dos custos com o frete. No médio e longo prazos, estudos feitos por entidades ligadas ao segmento mostram que a capitalização poderia chegar a R$ 2,2 bilhões em 2015 e a R$ 2,8 bilhões em 2020.
Enquanto o cenário de sonhos - sedimentado pela necessidade de bilhões em investimentos e várias dezenas de obras - não se concretiza, Mato Grosso, o maior produtor de grãos e fibras do Brasil, vai pagando um preço alto para manter números tão superlativos e que se superam a cada nova safra por uma espécie de reação instintiva ao bom momento do consumo mundial.
Em uma estimativa, que varia conforme os preços da soja e do frete, o transporte que já chegou a abocanhar até 52% do valor deve estar em torno de 22% agora, em função da valorização das cotações. Se a hidrovia fosse realidade, o Estado sairia de uma posição de perda logística para a de ganho logístico. Na safra 2011/12 foram produzidas 21,3 milhões de toneladas e como a lavoura do milho ainda se desenvolve, a projeção é de uma segunda safra de 10,7 milhões de toneladas.
Olhando o cenário atual para as duas commodities - especialmente a soja pelo seu maior valor de mercado, ditado pela forte demanda e pelas previsões de que a oferta delas continuará por pelo menos nesta década correndo atrás da demanda, como frisa o agronômo e analista sócio-diretor da Agroconsult, André Pessoa - haverá uma expansão natural da área plantada que poderá acumular no ciclo 2021/22 incremento de 38% ao passar dos atuais 7,07 milhões de hectares para 9,75 milhões, avanço - como gostam de frisar os produtores - que se dará sobre um estoque de área de pastagem degradada e de baixa produção que equivale à superfície semeada nesta temporada. “Muita coisa vai acontecer embalada pela boa remuneração, como, por exemplo, esse adicional de mais 11 milhões de toneladas de soja, fruto da expansão espacial de 39%. No entanto, se esse crescimento for induzido pelo ganho em infraestrutura, não apenas o lucro será adicionado ao balanço de safra dos produtores, como também mais 8,6 milhões de hectares serão plantados e cerca de 26 milhões de toneladas de soja e 20,84 milhões de milho serão incorporados”, frisa o coordenador-executivo do Movimento Pró-Logística, Edeon Vaz Ferreira.
OBRAS - O que ele destaca como crescimento induzido pela infraestrutura depende não apenas da hidrovia Teles Pires-Tapajós, como também da conclusão da BR-163, de outras duas hidrovias Arinos/Juruena/Tapajós e Paraguai/Paraná, BR 242 - ligando as BRs 163 a 158 -, BR 158, BR 155 (no Pará) - ligando Redenção a Marabá -, BR 080, Ferrovia de Integração do Centro-Oeste que ligará Campinorte (GO) a Lucas do Rio Verde (MT), extensão da Ferrovia Senador Vicente Vuolo até Cuiabá e seguindo para Lucas do Rio Verde, duplicação das BRs 163 e 364 de Rondonópolis ao Posto Gil (sul e médio norte mato-grossenses). “Com boa parte dessas obras, já com o desenvolvimento do norte do Estado por meio da BR-163, vamos transformar o que é quintal em porta da frente”.
Mas ele frisa que a competitividade, que é o fator remunerador e pulo do gato para qualquer vendedor, só vai existir em níveis próximos do que ocorre nos Estados Unidos e na Argentina, com as hidrovias. “É a integração dos modais de transporte (ferrovia, hidrovia e rodovia) é que reduz custos quem produz e para quem compra”, argumenta Vaz Ferreira.
Somadas, as demandas logísticas com prazos de conclusão para até o final desta década “em um cenário otimista” - já que algumas obras, como a Ferrovia Senador Vicente Vuolo até Lucas do Rio Verde (360 quilômetros ao norte de Cuiabá) e a hidrovia sobre o rio Juruena nem previstas estão no orçamento do governo federal - vão exigir cerca de R$ 20 bilhões, considerando obras estruturantes. “O Movimento trabalha para que haja sensibilidade do governo federal para essas demandas por meio do conhecimento da importância de cada uma e assim fazer com que as obras com cronograma definido sejam aceleradas e as que ainda não tenham sejam definidas, ganhem prazos e que aconteçam”. O Movimento Pró-logística é uma união de entidades mato-grossenses que tem como objetivo acompanhar projetos de desenvolvimento logístico e propor soluções que possibilitem ganhos econômicos, sociais e ambientais através da logística.
Fonte: Diário de Cuiabá
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