terça-feira, 2 de julho de 2013

Queda de preços afeta metade da exportação




A queda de preços das commodities começa a afetar mais o desempenho das exportações brasileiras. Nas três primeiras semanas de junho, das 23 commodities mais importantes na exportação, relacionadas pelo Ministério do Desenvolvimento (Mdic), 16 tiveram queda em relação ao preço médio do mesmo mês do ano anterior. Os itens com recuo de preço representaram 47% do valor de exportação total das três primeiras semanas de junho.

No acumulado de janeiro a maio, no mesmo grupo, também eram 16 itens com queda de preço em relação a iguais meses do ano passado. A exportação desses itens já era representativa, mas em fatia bem menor, de 25% do valor total exportado no período. A elevação dessa participação para quase metade dos embarques aconteceu porque o sinal negativo de preço atingiu, no parcial de junho, produtos com mais peso nas vendas brasileiras ao exterior, como soja e minério de ferro.

Além disso, outros produtos importantes, como café e açúcar em bruto e refinado, já amargavam quedas acentuadas de preço de janeiro a maio e mantiveram o recuo em junho. O café e o açúcar bruto, por exemplo, estavam com redução de preço de 28,8% e de 19,5%, respectivamente de janeiro a maio, contra iguais meses de 2012. Nas três primeiras semanas de junho, o preço caiu 24,7% e 18,1%, respectivamente, contra a média de igual mês do ano passado. Reflexo do excedente no mundo, produtos semimanufaturados de ferro e aço e laminados planos também estão entre as commodities que apresentavam queda de preço há mais tempo. O embarque de petróleo já caía em volume e preço.

Rafael Bistafa, economista da Rosenberg & Associados, diz que o quadro reflete a queda de preços internacionais de commodities em junho. "Como paralelamente houve a depreciação do câmbio, para o exportador não haverá um impacto tão grande nas receitas em reais", pondera.

A desvalorização de 1,5% do real ante o dólar na média diária de maio na comparação com abril aumentou a rentabilidade das exportações brasileiras em 0,8% no período, de acordo com a Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). No acumulado até maio, porém, contra iguais meses do ano passado, há ainda perda de rentabilidade de 0,4%. Para Rodrigo Branco, economista da Funcex, com a evolução da desvalorização do real, o ganho de margem do exportador deve ser maior em junho.

Por enquanto, diz Bistafa, o efeito maior da queda de preços deve acontecer mesmo na balança comercial, com a contribuição negativa para o desempenho das exportações. "Mas o quadro não é alarmante", diz Bistafa. Ele lembra que para algumas commodities, os preços, apesar da queda, estão historicamente em patamar alto.

Além disso, em alguns itens, como a soja, por exemplo, a queda de preços tem impacto relativo porque provavelmente haverá ganho de volume no embarque do ano. Nas três primeiras semanas de junho, o preço da soja em grão caiu 1,5% em relação à média do mesmo mês de 2012, segundo os dados do Mdic, mas no mesmo período o volume embarcado subiu 33%, na média diária, e o valor vendido do grão ao exterior aumentou 31%. De janeiro a maio, o preço da soja exportada pelo Brasil cresceu 5%, enquanto o volume embarcado subiu 5,8% e o valor, 11%.

A expectativa da Rosenberg é de um superávit comercial de US$ 3 bilhões em 2013. A consultoria revisou para baixo a estimativa durante o ano para incorporar, entre outros, a queda de preço das commodities. A estimativa anterior era de um saldo de US$ 9 bilhões.

A queda de preços era esperada, mas ela chegou antes do previsto, diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). "Minha expectativa era de que a redução do preço da soja aconteceria somente em agosto e a do minério de ferro, em julho." Para ele, a "antecipação" do recuo nos preços deve trazer impacto no saldo comercial do ano. A AEB, porém, deve revisar a balança somente em julho.

Castro lembra que o quadro de preços mais contidos das commodities não deve mudar tão cedo. "O recorde de volume exportado de soja ameniza a queda de preço do grão, mas sazonalmente esse embarque cai no segundo semestre, quando a safra americana entra no comércio internacional."

O minério de ferro, principal produto da pauta de exportação brasileira, deve sentir mais a queda de preço das três primeiras semanas de junho. Ao contrário da soja, o minério exportado acumula no ano queda de volume. De janeiro a maio, o Brasil embarcou 1,9% a menos de minério contra os mesmos meses de 2012. Como o preço subiu 4,1% no período, o valor vendido ao exterior cresceu 2,1%. Nas primeiras três semanas de junho, porém, o preço do minério de ferro caiu 3,7% em relação à média do mesmo mês de 2012. A quantidade embarcada manteve a queda, com recuo de 3,9%, na média diária. O valor exportado caiu 7,5%.

"Estamos vivendo o inverso do que tínhamos entre 2005 e 2010, quando a exportação brasileira bateu recordes por conta da elevação de preço das commodities", diz Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria. A boa notícia, diz ele, é que a economia americana demonstra sinais de recuperação, o que pode ajudar a elevar os embarques. O outro lado disso, porém, é o que provoca parte da queda de preços das commodities, resultado da liquidez do mercado internacional direcionada para os títulos americanos. A consultoria estima crescimento de 2% da economia americana este ano e 2,7% em 2014.

Ao mesmo tempo, a China mostra desaceleração, apesar do crescimento relativamente alto, reduzindo a demanda justamente por commodities, o que também provoca queda de preços. Para o Brasil, o receio mais imediato fica por conta do déficit da conta corrente com tendência de alta, num momento em que os investimentos diretos perderam força.

Marta Watanabe
Fonte: Valor Econômico

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