quarta-feira, 7 de março de 2012
Oferta de borracha representa um terço da demanda do País
Tempo de retorno para o investimento, de 10 anos, intimida a iniciativa privada e o poder público não se "engaja" no estímulo à cultura, diz analista - São Paulo
A produção de borracha no Brasil permanece, há duas décadas, com volume três vezes inferior ao consumo interno. Apesar do crescimento na área dos seringais, nos últimos anos, a dependência do País por mercados asiáticos chega a 70% da demanda - que se concentra no quarto maior setor automobilístico do mundo.
"O Brasil importou borracha pela primeira vez em 1951. Desde então, as importações só têm aumentado", afirma um dos diretores da Associação Paulista de Produtores e Beneficiadores de Borracha (Apabor), Heiko Rossmann, para quem "falta engajamento do poder público para estimular a produção de borracha no Brasil".
Vice-campeão na pauta de importações, o item borracha seca custou US$ 1,1 bilhão à balança comercial brasileira em 2011. No mercado interno, a extração do produto rendeu 138 mil toneladas a um preço médio de R$ 8,64 (total de R$ 1,2 bilhão). O consumo ficou em 406 mil toneladas - 66% a mais do que se extraiu.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) dispõe de uma linha de crédito especial para a heivecultura - como é conhecida a cultura da seringueira. No ano passado, liberou R$ 28,5 milhões para o investimento e R$ 18,4 milhões para o custeio nos seringais. "Há o preço mínimo para a borracha [R$ 1,61 por quilo e uma linha de crédito, com juros de 5,5% ao ano. O setor está dentro do Programa ABC, que prevê aumentar em três milhões de hectares as plantações [de diversas culturas], até 2015", diz o coordenador-geral para Pecuária e Culturas Permanentes do Mapa, João Antônio Salomão.
Mas não há política pública específica para o desenvolvimento dos seringais . Outro fator que atrasa a expansão do negócio, segundo Rossmann, é o tempo de maturação da seringueira: as árvores levam sete anos para amadurecer e dez para dar retorno financeiro, o que intimida investimentos de novos produtores.
Asiáticos
Mesmo assim, o cenário que se desenha em âmbito global chama a atenção para o potencial lucrativo da borracha. "A demanda deve crescer bastante nos próximos dez anos. A China deve dobrar seu consumo", observa o diretor da Apabor. O País consome 3,5 milhões de toneladas de borracha ao ano e pode chegar a 6,5 milhões em 2020, segundo ele.
Tailândia, Indonésia e Malásia, que são os três maiores produtores do mundo, buscam terras em países vizinhos, pois já não têm para onde expandir seus seringais. O Brasil, em comparação aos asiáticos, apresenta certas vantagens: solo e clima ideais e área agricultável de sobra para ampliar a produção interna.
"Nos últimos três anos, houve uma procura grande pela borracha brasileira, que, em termos de qualidade, é uma das melhores do mundo. A borracha asiática está ficando escassa", afirma Rossmann.
Contudo, a evolução histórica na relação entre oferta e demanda indica que a dependência externa pela borracha deve continuar. Em 2006, o País extraiu 108 mil toneladas do produto seco e consumiu 294 mil toneladas. Cinco anos depois, em 2010, retirou do campo 135 mil toneladas e utilizou 388 mil toneladas. Em meia década, a extração cresceu 25,3% e o consumo, 32%. "É preciso um esforço de plantio muito grande", diz o representante.
Pioneirismo e madeira
A Usina Santa Helena, em São José do Rio Preto (SP), produz três mil toneladas de Granulado Escuro Brasileiro (GEB, a borracha seca) por ano. A matéria-prima vem de 200 hectares próprios e outros 2.500 arrendados ou assistidos pela transformadora, que "lava, seca e embala" o produto, de acordo com o sócio Fernando Guerra.
"Descobriu-se que seringueira dá certo no Brasil a partir da Fazenda Santa Helena, em 1958", afirma Guerra, referindo-se a um negócio de família. A usina foi montada em 1970. Quarenta anos depois, os investimentos da empresa se voltam para a montagem de uma indústria de madeira, exclusiva da seringueira. "Vai ser também a primeira do Brasil", diz o empresário.
A ideia é promover a renovação de parte dos seringais e aproveitar, no futuro, eventuais elevações no preço da madeira.
Fonte: DCI
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