quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Milho sai da sombra da soja na safra 2011/2012



O economista Ricardo Guerra, diretor executivo da Sementes Guerra, não tira os olhos do relógio. Não por pressa, mas porque ele precisa calcular o fuso horário entre Pato Branco (PR) e Auverne, na França, para telefonar para seu sócio Daniel Cheron, dirigente da quinta maior empresa de sementes do mundo, a Limagrain, uma cooperativa que fatura 1,4 bilhão de euros por ano. A sociedade, selada em fevereiro deste ano, originou a Limagrain-Guerra a partir do aporte de R$ 91 milhões dos franceses, mas as conversas entre eles começaram em 2009, quando os europeus desembarcaram no Brasil com um único objetivo: investir na lavoura de milho. E mais, tinha de ser no Paraná. “Não foi só porque ficamos encantados com as cataratas do Paraná”, brinca Cheron, querendo dizer, na verdade, Cataratas do Iguaçu. “Foi estratégico. Temos ambições ousadas no Brasil.” A estratégia da Limagrain parece ser a mesma de outros grupos, como o também francês Tereos Internacional (que já é sócio da Petrobras e da Usina Guarani no setor de etanol) e a americana Cargill. Em junho, o Tereos comprou, por R$ 49 milhões, 70% da Hallotek-Fadel, refinaria localizada na divisa do Paraná com São Paulo, e em agosto a Cargill anunciou o investimento de R$ 350 milhões em uma refinaria em Castro, a 142 quilômetros de Curitiba (a empresa já tem uma refinaria em Uberlândia, em atividade desde 2010). O que esses grupos querem no Paraná é produzir amido de milho, um produto de alto valor no mercado (a tonelada pode custar entre R$ 800 e R$ 1.200, dependendo do tipo), e, juntas, eles demandarão 150 mil toneladas de grão por dia a partir de 2013. “Fizemos levantamentos em todas as regiões produtoras do cereal no Brasil e concluímos que, no Paraná e em Minas Gerais, não faltará matéria-prima”, justifica Gonzalo Petschen, diretor de negócios de amidos e adoçantes da Cargill na América do Sul.



Gonzalo Petschen, da Cargill, aposta na produtividade do Paraná para produzir amido

Petschen sabe o que fala e não se baseia em intuição, mas em estatísticas. Após três anos em queda, a área de milho voltará a crescer no Brasil. De acordo com um levantamento da Céleres Consultoria, a demanda no mercado interno em 2011 cresceu 6% em relação a 2010 e a área plantada será 9,1% maior, cobrindo 8,2 milhões de hectares. A previsão de produção é de 58,3 milhões de toneladas (36,2 milhões de toneladas no verão e 22 milhões de toneladas no inverno), com produtividade média de 4.300 quilos por hectare. “As vendas de sementes para produtores das regiões Sul e Sudeste aumentaram neste ano, mas um detalhe que chamou a atenção foi a antecipação de compras por produtores de Mato Grosso para a safrinha de 2012”, conta Ricardo Guerra. “A cada safra notamos que o produtor quer mais tecnologia, porque está preocupado em elevar a produtividade”, diz. A investida da Limagrain no milho brasileiro incluiu também a aquisição de 85% da Brasmilho, em Goianésia (GO). “Essa preocupação do produtor (em incorporar tecnologia às sementes de milho) motivou o investimento em um banco de germoplasma”, explica Guerra.

Paraná, Rio Grande do Sul e Minas Gerais são os estados que mais ampliam os cultivos de milho na safra de verão. A área cultivada no Paraná crescerá 20% em relação ao ano passado e 950 mil hectares serão cobertos com o cereal; enquanto Rio Grande do Sul e Minas Gerais plantarão, cada um, 1,1 milhão de hectares. “O cenário altista motivou os produtores a ampliar a área cultivada com o milho, tanto no verão como no inverno, em todos os estados”, revela o analista da Céleres Leonardo Menezes. Ele também aponta crescimento da área plantada com milho na safrinha, quando Mato Grosso cultivará 2,1 milhões de hectares; Paraná, 1,6 milhão de hectares; e Mato Grosso do Sul, 850 mil hectares. Na Região Centro-Oeste, porém, a falta de infraestrutura para escoar a produção é um fator limitante de crescimento das lavouras de milho. “Se para a soja já é um problema, para o milho é mortal”, comenta Petschen. Mas as razões que incentivam o aumento do cultivo de milho no Brasil são várias e não se baseiam somente no preço altista, mas em um conjunto de fatores de curto, médio e longo prazo.



Com sócios franceses, Ricardo Guerra busca tecnologia agregada às sementes

“Os fatos justificam o crescimento: o milho está valorizado no mercado internacional e mesmo quem plantou o cereal nos últimos anos, quando a situação não era tão positiva, obteve ganhos. A demanda por alimentos está crescendo e as lavouras só têm condições de ser expandidas na América do Sul e no Leste Europeu. Lá, porém, a estrutura é mais precária que a nossa”, destaca Paulo Sousa, diretor da área de grãos da Cargill. “Nos Estados Unidos, o espaço para crescer é limitado, a China perde área agrícola para a urbanização e a Europa tem restrições aos transgênicos”, diz. AOrganização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) aponta que os países da América Latina, especialmente o Brasil, realmente serão os mais beneficiados com o agronegócio na próxima década. A FAO prevê o fim do crescimento espetacular das lavouras de soja no Brasil e na Argentina, mas ambos aumentarão a produção de milho, com preços elevados até 2020.

Para o presidente da Associação Nacional dos Produtores de Milho (Abramilho) e ex-ministro da Agricultura, Alysson Paolinelli, a cultura vive um momento de transição importante. “O milho deixa de ser visto pelo binóculo da soja para ter vida própria nas lavouras”, afirma. Para ele, os preços continuarão dando as regras do mercado, mas a demanda crescente por alimentos também passará a comandar o jogo. “Em curto prazo, os EUA precisam de milho para oetanol, ainda mais agora, com a quebra da safra provocada pelo clima, e os chineses querem comer mais carnes. No médio prazo, a agroindústria brasileira vai demandar milho para agregar valor à matéria-prima e, em um futuro não muito distante, todos esses fatores convergem”, explica o ex-ministro. Mas, além da agroindústria, outra forte tendência para o milho é sua utilização para a recuperação de pastagens degradadas, que deve ganhar fôlego no país nos próximos três anos. Luiz Lourenço, presidente da Cocamar, cooperativa localizada na região noroeste do Paraná, defende o plantio das lavouras do cereal no processo (leia artigo nesta edição). “O milho é uma das melhores alternativas para a recuperação das pastagens degradadas do Brasil ou, pelo menos, poderá recuperar 100 mil hectares delas. E essa tarefa o produtor rural vai ter de aprender a fazer nos próximos anos para preservar o ambiente”, afirma. De acordo com o presidente da Cocamar, o milho reduz os custos de recuperação dos pastos e dá liquidez ao produtor. O agrônomo João Cuthcouski, da Embrapa, diz que, quando consorciado com a braquiária, a produtividade é alta. “Em Goiás, chegamos a 52 toneladas de silagem de milho por hectare na recuperação dos pastos”, afirma o pesquisador.
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Fonte: Globo Rural

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