terça-feira, 4 de outubro de 2011

Manutenção da palha da cana na superfície evita emissões de CO2 do solo



Pesquisadores da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (Unesp), localizada no campus de Marília, descobriram que a manutenção da palha da cana-de-açúcar na superfície de plantações que adotam a colheita mecanizada contribui de modo significativo para reduzir as emissões de gás carbônico do solo para atmosfera. Além disso, confirma-se ainda que esta ação era responsável por diminuir erosões no solo.

“Quando se retira a palha do solo, ele fica mais oxigenado, aumentando as emissões. Quanto maior a quantidade de oxigênio, menor é a umidade. Por isso, nós acreditamos que o aumento de gás carbônico tenha relação com a temperatura, a umidade e as emissões. No experimento, constatamos que, ao retirar a palha do solo, houve um aumento na temperatura, um aumento na emissão e uma diminuição na umidade”, explica Newton La Scala Júnior, professor do Departamento de Ciências Exatas da Unesp e coordenador da pesquisa “Impacto das práticas de gestão sobre a emissão de CO2 em áreas de produção de cana, Sul do Brasil”.

O pesquisador descobriu que também há ligação entre a erosão e as emissões: “A colheita mecanizada evita a erosão do solo, o que é benéfico para as emissões”, afirma. “A retirada da palha da superfície de plantações de cana-de-açúcar causa emissões adicionais de carbono bastante significativas. Em um agrossistema que emite, no total, 3 mil quilos de dióxido de carbono, o aumento de mais 1,5 mil quilos do gás pela simples retirada da palha representa muito, e o solo seria a maior fonte de emissão”, comenta.

As constatações foram possíveis a partir de três estudos de campo em lavouras de cana-de-açúcar, comparando a colheita mecanizada e por queimada na região de Jaboticabal, no interior do estado de São Paulo, para melhor analisar as emissões em áreas canavieiras. As análises ocorreram em 2008, 2009 e 2010 e tiveram duração de 50 dias, 16 dias e 22 dias, respectivamente.

“As emissões foram acompanhadas após o processo de preparo do solo e a simples retirada de palha do solo já resulta em emissões comparáveis as induzidas pelo preparo do solo”, recorda La Scala Júnior.


A remoção total da palha da superfície é tão prejudicial quanto o preparo do solo

De acordo com o pesquisador, já eram conhecidos os malefícios do preparo do solo, por meio da intensa aração do terreno onde será plantada a cana, e que isso era capaz de acelerar significativamente as emissões de carbono do solo para a atmosfera. Entretanto, não se tinha conhecimento que o simples fato de remover a palha da superfície das plantações também influenciasse negativamente e gerasse emissões tão altas quanto as que são emitidas para se preparar o solo antes do plantio. As análises comprovaram que a remoção total da palha é prejudicial em termos de emissão de CO2 e também para a erosão.

Ele comenta que praticamente não houve diferenças nos estudos que comparavam 50% da palha e 100% da palha na superfície e que esses dados também foram comparados com 0% de palha, que foi o índice que mais apresentou impacto negativo ao meio ambiente. “O estudo mostra que uma parte da cana deve ser mantida para evitar tanto a erosão, quando as emissões de gases. Nossos resultados mostram que o nível de 50% da palha pode ser comparável ao de 100%. Durante os 50 dias de uma das análises, as emissões foram similares”, confirma, afirmando que, por causa disso, os produtores devem deixar uma quantidade adequada de palha sob o solo, após a colheita mecanizada.

O coordenador do projeto diz que os testes revelaram que as médias dos valores das emissões de CO2 do solo em que a colheita se dar por queimada, em que se elimina a palha, foram bastante superiores aos números apontados pela colheita mecanizada. O pesquisador cita que, em lavouras de cana em que a colheita se dá mecanicamente, podem ser geradas até 15 toneladas de palha por hectare. Várias alternativas para o uso da palha estão sendo estudadas, entre elas, a obtenção de energia a partir deste insumo renovável e a geração de etanol.

“No início do projeto, não achávamos que a magnitude da emissão seria tão grande”, recorda La Scala Júnior. “É preciso tomar um certo cuidado com a remoção da palha porque, definitivamente, ela pode causar emissões adicionais de carbono do solo. E isso é algo que nos preocupa bastante”, conclui.




Fonte: Jornal da Cana

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Cana-de-Açúcar

Açúcar