O IPCA subiu 0,37 por cento em maio, menor alta em quase um ano e com redução do índice de difusão, resultado favorecido pela pressão menor dos preços dos alimentos e pelo consumo em queda.
A alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo é a menor desde junho de 2012, quando foi de 0,08 por cento, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira. Em abril, o IPCA havia subido 0,55 por cento.
Nos 12 meses acumulados até maio, o índice subiu 6,50 por cento, ante 6,49 por cento em abril, exatamente no teto da meta do governo, de 4,5 por cento com tolerância de 2 pontos percentuais.
O resultado ficou em linha com as expectativas de analistas ouvidos pela Reuters, que esperavam alta mensal de 0,38 por cento em maio e 6,51 por cento em 12 meses.
Os preços do grupo Alimentação e bebidas subiram 0,31 por cento no mês passado, depois de uma alta de 0,96 por cento em abril. Com isso, o impacto no IPCA de maio foi reduzido a 0,08 ponto percentual, ante 0,24 ponto no mês anterior.
"Aquela deflação que estava acontecendo nos preços agrícolas no atacado finalmente tem efeito sobre a inflação no âmbito do consumidor", destacou O estrategista-chefe do Banco WestLB, Luciano Rostagno.
O destaque foram os preços do tomate, que caíram 10,31 por cento em maio, ante alta de 7,39 por cento em abril, com impacto negativo de 0,04 ponto no indicador. Outros produtos como açúcar, óleo de soja, frango, carnes e arroz também tiveram variação negativa.
"Foi uma mudança brusca de movimento para baixo no IPCA por conta de alimentos, seja pela entrada da safra recorde, seja pelos efeitos da desoneração da cesta básica", explicou a economista do IBGE Eulina Nunes dos Santos, destacando que em 12 meses os alimentos acumulam alta de 13,53 por cento.
Por outro lado, os remédios exerceram o principal impacto de alta sobre o IPCA de maio, com 0,06 ponto percentual, mas a taxa desacelerou na comparação com abril ao atingir 1,61 por cento, ante 2,99 por cento no mês anterior.
Isso favoreceu a desaceleração da alta no setor de Saúde e cuidados pessoais a 0,94 por cento, ante 1,28 por cento no mês anterior, mas este ainda foi o grupo com maior variação no mês .
Com esse resultado, o índice de difusão do IPCA caiu para 63,0 por cento em maio, ante 65,8 por cento em abril, de acordo com o Banco Fator.
O IBGE destacou que a própria inflação mais alta no começo do ano vem forçando a desaceleração de preços, ao afetar o consumo, principalmente em serviços como manicure e cabeleireiro. O item Serviços pessoais desacelerou a alta para 0,53 por cento em maio, ante 0,95 por cento no mês anterior.
"Alguns itens do IPCA sugerem que os preços mais altos estão inibindo a demanda", afirmou Eulina, do IBGE. "A própria alta dos alimentos no começo do ano mexe com o consumidor. Quando eles sobem, a sensação é de que a inflação está aí e as compras de outros bens ou serviço se reduzem."
NOVO ESTOURO DA META
A inflação em 12 meses, no entanto, deve estourar novamente o teto da meta do governo neste mês, uma vez que sairá da série acumulada junho do ano passado, quando o IPCA subiu apenas 0,08 por cento.
"(A inflação deste mês) ficará nessa faixa de 0,30, 0,35 por cento, então vai subir de novo em 12 meses, superando o teto", disse o economista-chefe do banco Fator, José Francisco Gonçalves. "Essa oscilação no curto prazo é o que incomoda porque se demorar muitos meses vai estragando as expectativas."
Em junho o IPCA sofrerá em junho o impacto dos aumentos de ônibus no Rio de Janeiro e em São Paulo --o peso do custo dos ônibus urbanos no índice é de 2,65 por cento, um dos 5 maiores do índice.
Segundo o IBGE, o mês de junho vai captar ainda os aumentos de ônibus em Goiânia, táxi em Porto Alegre, taxa de água e esgoto em Belo Horizonte, trem em São Paulo, metrô em São Paulo e taxa água e esgoto em Fortaleza.
DÓLAR
Para Gonçalves, esse quadro inflacionário justifica a mudança recente da comunicação do Banco Central e a aceleração do ritmo de alta da Selic. No mês passado, o BC elevou a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, depois de a ter elevado em abril em 0,25 ponto.
A autoridade monetária também endureceu o discurso e pintou um quadro mais feio para a inflação, afirmando que trabalhará com a "devida tempestividade" para combatê-la.
E na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada na quinta-feira, o BC mencionou ainda a tendência de valorização do dólar, o que pode alimentar ainda mais a inflação.
"Se o dólar continuar subindo, pode haver o risco de a inflação terminar o ano próxima do teto da meta, o que seria preocupante", avaliou Rostagno, do WestLB. "Ou seja, o dado de inflação (de maio) está refletindo mais a desaceleração dos preços dos alimentos do que realmente indicando algum alívio mais permanente."
Reuters
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