quarta-feira, 6 de março de 2013

Falta de vendedor trava mercado




Aos 62 anos de idade, Odair Novello é um dos maiores produtores de cana-de-açúcar de Piracicaba, no interior de São Paulo - uma das regiões que lideram o mercado no Estado. Investir em terras agrícolas sempre foi seu negócio. "Em 2006, comprei uma fazenda com o alqueire ao preço de R$ 23 mil. Hoje, se eu colocar para vender por R$ 60 mil, R$ 70 mil o alqueire, vende na hora", conta o fazendeiro.

"É muito difícil achar terras agrícolas para comprar aqui em Piracicaba. Se achar, encontra por um preço muito alto", explica Novello, que em 2012 investiu na compra de uma nova fazenda na região, na cidade vizinha de Anhembi. "No ano passado, já paguei R$ 58 mil pelo alqueire, em uma propriedade de 130 alqueires", conta o produtor rural.

Ao todo, Novello tem 16 propriedades agrícolas (próprias e arrendadas), num total de 5 mil hectares, que a família mantém produzindo cana-de-açúcar para vender para as usinas do grupo Cosan-Raízen. A alta nos preços e a falta de terras em Piracicaba na última década foi impulsionada pela chegada da montadora coreana Hyundai na cidade. A nova fábrica ocupou quase 1,4 milhão de metros quadrados em uma área antes tomada por plantações de cana na zona rural, que agora começa a se tornar urbana, com a chegada das mais de dez fábricas subsidiárias.

"Na região onde se instalou a Hyundai, o preço do alqueire já é de R$ 150 mil, quando você acha algo para comprar. Quem tem terra por lá, já está vendendo por metro quadrado, como se fosse área urbana", conta o engenheiro agrônomo e produtor rural José Rodolfo Penatti, um dos diretores da Cooperativa de Plantadores de Cana (Coplacana).

Sem vendedor. A alta dos preços das commodities agrícolas, sobretudo a soja, nos últimos anos, provocou uma valorização recorde nos preços das terras também no Paraná, que até o ano passado era o maior produtor agrícola do País. Em Cascavel, no oeste do Estado, o hectare disparou e muitos agricultores têm dificuldade para expandir a área de plantio de grãos em razão das raras ofertas de venda.

É o caso do agricultor Paulo Orso, que tem uma propriedade rural de 150 hectares em Cascavel. Desse total, 120 hectares são destinados à produção de grãos, como soja e milho.

"Há dois anos estou tentando ampliar a minha área para cultivo de grãos, mas não consigo. Tentei permutar área para facilitar a negociação e também não deu certo. Há muita intenção de compra por parte dos produtores, mas ninguém quer vender", afirma.

A valorização segue o caminho da soja, que virou uma espécie de "moeda paralela" nas negociações imobiliárias. Em média, um hectare custa o equivalente a mil sacas de soja. Com o preço atual, de R$ 55 a saca de 60 kg, um hectare sai por R$ 55 mil.

Em áreas mais produtivas, o valor pode atingir duas mil sacas de soja. "A moeda usada nos negócios não é o real, mas a soja. Como nos últimos dois anos os grãos se valorizaram, a propriedade também se valorizou", afirma Orso.

Ricardo Brandt, enviado especial, Piracicaba (SP) e Miguel Portela, especial para o Estado, Cascavel (PR)
Fonte: O Estado de S. Paulo

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