quarta-feira, 28 de novembro de 2012
Entre a oportunidade e a aversão total ao risco
Hora de vender ou de comprar ações de elétricas? É essa dúvida que atormenta os gestores de fundos desde que o governo anunciou o pacote para reduzir os custos com energia. Existe um grande temor por conta das imensas incertezas que pairam sobre o setor, mas há também um desejo de ir contra o movimento de manada do mercado e aproveitar ´pechinchas´ no setor. E alguns gestores já fizeram isso, vendo oportunidades em papéis cujas quedas passaram, em alguns casos, de 50%.
Foi o caso da Studio Investimentos. "Os preços caíram tanto que compramos pelo menos dois papéis que foram afetados", diz Gabriel Stoliar, sócio da gestora. Ele prefere não informar quais são as empresas. Segundo Stoliar, ainda é difícil avaliar o impacto do pacote sobre os resultados financeiros das elétricas. "Cada um faz essa conta."
Na visão de Mario Campos, sócio da Vinci Partners responsável pela área de renda variável, a incerteza no setor elétrico fez com que algumas ações ficassem "extremamente baratas". "Tem empresas que estão de graça, especialmente se não renovarem as concessões [nos termos oferecidos pelo governo]", diz. Entre as oportunidades, ele destaca ações da Cemig e da Transmissão Paulista.
A Bogari Capital foi outra que aproveitou a queda para comprar papéis da Cemig e da Copel, conta o sócio Flavio Sznajder. Em carta enviada a cotistas, a gestora ressaltou que "o discurso foi pior do que será a realidade", uma vez que o texto da Medida de Provisório (MP) relativa ao pacote é "mais flexível". "O mais provável é que ao longo do tempo chegue-se a um termo comum, tornando o negócio marginalmente atrativo para as atuais concessionárias", destaca.
Para Carlos Massaru Takahashi, presidente da BB DTVM, ainda não é o momento de fazer uma realocação mais agressiva. "Vamos esperar", afirma. O fundo setorial deenergia da casa está entre as carteiras que mais perderam desde o anúncio do pacote em setembro. "Nós fizemos pequenos ajustes, mas mantivemos a lógica do portfólio, de não concentração", diz.
O presidente da BB DTVM até considera que a cadeia de negócios de energia não foi afetada de forma igual. E que os impactos podem ser menores para as concessões mais novas, que ainda demoram a vencer. Preferiu, entretanto, não se movimentar muito. "Se eu vejo um cenário imediato e migro de forma intensa, de geradoras para distribuidoras, por exemplo, posso cometer o erro de sair na hora em que estão no patamar mais baixo", diz.
As carteiras de dividendos, com foco em empresas maduras que já distribuem altos proventos, também dificilmente se livrarão das ações de energia. Quando se coloca o filtro de um retorno mínimo com dividendo, o gestor acaba sendo forçado a ter alguma alocação no setor, apesar da visão negativa, pondera o executivo de uma gestora. E para as empresas que não renovarem as concessões, que vencem entre 2015 e 2017, o retorno com dividendo tende a ser mantido até o fim do prazo.
Não é o caso de Eletrobras, por exemplo. Essa mesma gestora, quando foram divulgadas as condições para a renovação das concessões para a empresa, zerou sua exposição no papel, o que acabou protegendo seus fundos do tombo recente das ações.
O único consenso entre os gestores é a incerteza que paira sobre o mercado. "O investidor não gosta de insegurança. O marco regulatório está mudando e enquanto houver dúvidas e incertezas, as pessoas darão dois passos para trás", diz Stoliar, da Studio. Para ele, o objetivo do governo, de reduzir o custo com energia elétrica, é nobre. Se, contudo, a medida afastar investimentos para o setor, pode faltar energia no futuro, fazendo o preço subir. "Aí o tiro sai pela culatra", diz.
Nobres ou não, as medidas trouxeram um clima pesado para um mercado acionário já combalido. "A bolsa virou um campo minado", resumiu José Carlos Carvalho, da Paineiras Investimentos, em palestra no seminário "Value Investing" na semana passada.
Luciana Seabra e Alessandra Bellotto
Fonte: Valor Econômico
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário