quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Oportunidade ameaçada




O gás natural vem sendo apontado como a fonte de uma potencial revolução energética no mundo em razão do enorme aumento de sua oferta com a consequente queda de preço ocorrida nos Estados Unidos nos últimos anos.

Isso se deveu ao aproveitamento das chamadas jazidas de gás não convencional por meio da aplicação de novas tecnologias que aumentam muito a produtividade dos poços em áreas até então consideradas subcomerciais.

A adoção de práticas semelhantes àquelas hoje desenvolvidas nos Estados Unidos em situações geologicamente análogas já vem sendo testada com sucesso em outros países, reforçando as perspectivas positivas de que grandes mercados como o europeu e o asiático também possam experimentar significativas reduções no preço do gás, incentivando o seu consumo.

Tudo isso nos leva à imediata reflexão sobre quais os impactos que essa nova onda poderá trazer para o Brasil, não só em relação à competitividade de sua indústria, já que nos outros países se poderá ter acesso a esse tipo de energia de forma mais barata, como também em relação às possibilidades que teremos de aproveitar as novas oportunidades que se descortinam com o gás não convencional.

E tudo isso passa por análises que envolvem aspectos ligados ao marco regulatório, à infraestrutura, à prioridade de investimento e à política de preços.

Na cadeia de geração de valor da indústria petrolífera, tudo começa com a atividade exploratória.

O Brasil tem cerca de 6,4 milhões de quilômetros quadrados de bacias sedimentares, sendo 2,8 milhões de quilômetros quadrados com potencial de descobertas de óleo e gás natural.

Desses, apenas 336,7 mil quilômetros quadrados estão concedidos, algo que poderá melhorar caso a 11ª rodada de licitações seja de fato aprovada conforme anunciado, mas ainda ficaremos deixando uma vastíssima área sem previsão de investimentos.

Quando observamos a malha de gasodutos brasileiros, verificamos que ela é pouco expressiva, seja na cobertura territorial, seja na capacidade de transporte.

A maioria das áreas onde existe potencial de produção de gás não convencional não possui nenhum tipo de gasoduto. Existem razões históricas para isso, afinal as reservas brasileiras de gás natural nunca foram muito grandes.

O consumo de gás natural só começou a ter um crescimento significativo com o início da operação do gasoduto Brasil-Bolívia, mas mesmo assim a sua participação na matriz energética brasileira sempre foi inferior a 9%.

Mesmo sem considerar o potencial acréscimo do gás não convencional, somente com o desenvolvimento dos campos do pré-sal a oferta do produto crescerá muito no país. Mas, ao analisarmos os investimentos previstos na área de transporte e de distribuição de gás no plano da Petrobras, empresa que sempre esteve e certamente continuará na vanguarda do desenvolvimento de infraestrutura de gás, veremos que eles serão modestos.

Os recursos financeiros necessários para colocar os campos de petróleo em produção tendem, cada vez mais, a drenar a capacidade de investimento da companhia para a atividade de exploração e produção, sem dúvida o mais rentável negócio da companhia.

Por outro lado, os preços de gás praticados no Brasil estão em níveis bem razoáveis, permitindo um importante ingresso de recursos na Petrobras para sustentar seu programa de investimentos, principalmente agora que os preços dos derivados estão em patamares inferiores aos do mercado internacional.

Mesmo que a queda de preços observada no mercado americano venha a ocorrer nos demais mercados mundiais, é difícil de acreditar que o movimento venha a afetar a política interna de preços, pelo menos a curto e médio prazos.

Por tudo isso e por aspectos relativos à complexidade e à responsabilidade dividida do marco regulatório existente, que, ao contrário de ajudar, dificultam a viabilização da implantação de uma logística de gás, o Brasil poderá deixar de se beneficiar por muitos anos dessa grande oportunidade que a evolução tecnológica no setor petrolífero vem oferecendo.

Rodolfo Landim - Engenheiro civil e de petróleo, é presidente da YXC Oil & Gas e sócio-diretor
da Mare Investimentos
Fonte: Folha de S. Paulo

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