quarta-feira, 24 de outubro de 2012
JBS terá de seguir cronograma sanitário em nova planta no Canadá
O setor agrícola está tentando tornar o milho mais robusto. Num momento em que o "Corn Belt" americano se recupera de uma das piores estiagens em décadas, as empresas que fornecem sementes do cereal estão produzindo variedades capazes de sobreviver com menor quantidade de água. É uma batalha de amplo espectro e elevados investimentos que abrange muitas frentes, desde o cruzamento de plantas até a manipulação de seus genes.
Não há fórmula mágica, dizem pesquisadores. Mas mesmo aprimoramentos adicionais poderão ter bons resultados ante a magnitude e a importância da safra de milho. Avanços que produzem um aumento de apenas 1% na produtividade do milho podem ter "um enorme impacto econômico", diz David Lightfoot, geneticista da Universidade do Sul de Illinois. "É uma cultura que cresceu em algumas das áreas mais secas do Meio-Oeste, e para o qual o progresso gerará os maiores frutos".
Os EUA são os maiores produtores e exportadores de milho do mundo, com uma safra que gerou US$ 76,5 bilhões em 2011, segundo o departamento de agricultura do país (USDA). O milho, além disso, afeta muitas áreas da economia - ao servir de base para a produção de adoçantes de alimentos, ração animal e etanol - e safras precárias podem ter grandes repercussões.
Por anos, grupos como Monsanto, DuPont e Syngenta usaram técnicas convencionais de aprimoramento genético e biotecnologia para criar um milho mais robusto, inclusive variedades híbridas dotadas de maior resistência diante de situações de escassez de água. Seu empenho - ao lado da melhoria das práticas de manejo - reduziu perdas de produtividade atribuídas à seca da safra de milho dos EUA em cerca de 1% ao ano nas últimas décadas, segundo estudo publicado em 2010 pela Universidade Estadual de Iowa.
Mas, recentemente, as gigantes do ramo começaram a lançar variedades concebidas para resistir à seca. A Syngenta fez o um lançamento comercial restrito de uma dessas variedades nos últimos dois anos e pretende expandir a disponibilidade do produto para o plantio de 2013. A semente tem capacidade de elevar a produtividade em até 15% em relação a outros híbridos em quadro de estiagem "moderada a severa", afirma Wayne Fithian, gerente da empresa responsável pela novidade.
Uma variedade da DuPont estreou no mercado no ano passado e foi plantado em 809,4 mil hectares no "Cinturão do Milho" em 2012. A DuPont Pioneer, o braço agrícola da múlti, diz que os dados da safra mostram que, em condições de seca, a produtividade da variedade é cerca de 8% superior à dos concorrentes. Diversos agricultores que plantaram variedades tolerantes à seca este ano dizem estar satisfeitos. Em Elgin, Nebraska, Philip Starman diz que voltará a cultivar a variedade da DuPont em 2013. "Pode-se dizer que ela deverá ser a última a morrer", afirma.
Tanto as sementes da Pioneer quanto as da Syngenta foram criadas por meio de versões avançadas de técnicas de aprimoramento genético tradicionais. Agora, a Monsanto trabalha no primeiro milho geneticamente modificado para tolerar a seca. Este ano, cerca de 250 agricultores americanos das Grandes Planícies plantaram esse milho a título de experiência, e a semente deverá ser lançada no mercado em 2013. Altos funcionários da Monsanto, que desenvolveu a semente em parceria com a Basf, dizem que o desempenho foi animador. Dados preliminares dos testes mostram que sua produtividade superou em 313,8 quilos por hectare a do híbrido tolerante à seca da concorrência.
Há anos, quando a Monsanto começou a falar publicamente de sua tecnologia de combate aos efeitos da seca, executivos da empresa previram que a produtividade do milho poderia crescer de 6% a 10% sobre a de outros híbridos. Mas uma porta-voz da Monsanto diz que a empresa não faz mais esse tipo de projeções.
Se a semente produzir bons resultados, a iniciativa poderá representar um avanço. Modificar o milho de modo a torná-lo resistente à seca se mostrou um desafio maior do que criar plantas tolerantes a ervas daninhas ou insetos. Parte do problema é que a resistência à seca envolve várias partes da planta, o que significa envolvimento de milhares de genes.
Alguns críticos - e concorrentes da Monsanto - consideram que a tecnologia não está pronta e que a melhor resposta é o aprimoramento genético tradicional. Executivos da Syngenta dizem que só pretendem lançar um milho biotecnológico tolerante à seca bem depois de 2015, enquanto a Pioneer não planeja introduzi-lo antes da próxima década.
David Kesmodel
Fonte: Valor Econômico
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