quinta-feira, 13 de setembro de 2012
Produtor de celulose cresce em geração
A indústria brasileira de celulose e papel poderá obter receitas relevantes com a venda de energia e se consagrar no topo da lista dos grandes autoprodutores caso o limite para a comercialização do insumo subsidiado, hoje de 30 MW por empresa, seja ampliado. Maior produtora mundial de celulose branqueada de eucalipto e a caminho da autossuficiência energética, a indústria nacional gerou no ano passado, segundo dados estimados pela Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel (ABTCP), 9,7 milhões de megawatts-hora (MWh), o equivalente a 10,5% da energia produzida no mesmo período em Itaipu e a 52% do consumo energético do setor. Desse total, 17% poderiam ser vendidos não fosse a regulamentação atual.
A tendência é a de que o excedente de energia gerada pela indústria, e disponível para venda, seja cada vez maior, diante das novas tecnologias de produção da celulose. Um estudo desenvolvido pela finlandesa Pöyry, uma das maiores prestadoras de serviços de engenharia para a indústria mundial, mostra que uma fábrica moderna pode gerar, sozinha, até 270 megawatts (MW) de energia, equivalentes a 6% da energia média anual que será gerada em Belo Monte. E, até o fim da década, pelo menos oito novas unidades fabris poderão ser implantadas no país.
O levantamento da Pöyry considera uma linha com capacidade de produção de 1,5 milhão de toneladas anuais, como as que estão sendo implantadas pela Eldorado Celulose e Papel no município de Três Lagoas (MS) e pela Suzano Papel e Celulose em Imperatriz (MA). A Klabin, que estuda a construção de uma fábrica voltada à produção de três tipos de celulose com essa mesma capacidade, avalia que vai triplicar a produção de energiacaso o projeto saia do papel, com a adição de 260 MW médios. A Cenibra, que avalia dobrar a capacidade produção da fábrica de Belo Oriente (MG), também trabalha com a geração de energia excedente a partir da execução do projeto.
O estudo ainda corrobora a tese de que a venda de energia poderá se converter em importante fonte de receitas para a indústria, como já ocorre em países europeus. Em Portugal, por exemplo, 20% das receitas do setor de celulose e papel é proveniente da comercialização de energia. A própria Suzano, de acordo com o diretor executivo de Operações Ernesto Pousada, estima em R$ 80 milhões ao ano as receitas oriundas da venda de 100 MW de energia excedente que será gerada na fábrica maranhense.
De acordo com o vice-presidente da Pöyry Tecnologia, Carlos Alberto Farinha e Silva, do total de energia que poderá ser gerada pelas novas fábricas, estima-se que menos da metade, ou 108 MW, será usada pela própria indústria. "As novas linhas de produção de celulose permitem economia de escala e, equipadas com caldeiras maiores, oferecem a possibilidade de geração de energia mais econômica", explica.
Considerando-se o consumo de energia estimado no levantamento, cada fábrica de 1,5 milhão de toneladas de celulose teria disponível para venda cerca de 160 MW de energia, o suficiente para atender um município com 2,6 milhões de habitantes. Pelas regras atuais, contudo, a venda dessa energia não é viável do ponto de vista comercial porque deixam de ser aplicáveis dois importantes incentivos: a redução de encargos setoriais e o desconto de 50% na distribuição dessa energia, o chamado desconto "no fio", válidos quando observado o limite de 30 MW.
Com vistas a ampliar esse teto, o estudo da Pöyry foi levado ao conselho setorial de papel e celulose do programa Brasil Maior e a expectativa é a de que alguma novidade possa ser anunciada em breve pelo governo. "Hoje não há regulamentação para o uso daenergia que excede 30 MW em outros setores", ressalta Viviane Nunes, que participou da coordenação geral do Guia Técnico de Eficiência Energética lançado no ano passado pela ABTCP. Garantia de preço firme ou extensão dos descontos para o excedente comercializado estão entre as propostas da indústria.
Na Fibria, a venda de energia é realidade - nas unidades Aracruz (ES) e Três Lagoas (MS), o excedente combinado é de 30 MW, ou 8% da produção total da empresa. De acordo com o gerente-geral de Meio Ambiente Industrial da companhia, Umberto Cinque, esse número já poderia ser de pelo menos 50 MW, porém os investimentos necessários ainda não foram feitos diante da limitação regulatória. "Além de ser uma energiasustentável, que utiliza recursos renováveis e traz ganhos ambientais, ela traz ganhos econômicos", afirma Cinque. "Há uma tendência de que [a venda de energia] seja fonte importante de receitas."
A Cenibra também já experimentou esse mercado no passado. Autossuficiente até 2006, antes de executar um projeto de expansão em celulose, a companhia ofereceu 3 MW à época do apagão para a estatal mineira Cemig. Na Klabin, a nova fábrica de celulose deve mudar o status da companhia, de compradora para vendedora de energia. "A Klabin fez importantes investimentos nos últimos anos e deixou de usar combustível fóssil", conta o consultor de meio ambiente da empresa, José Oscival dos Santos. "Mas, por ter produção integrada de papel e celulose, não é autossuficiente."
Da mesma forma, a Suzano, nas fábricas paulistas, consome mais energia do que é capaz de gerar, uma vez que a fabricação de papel é intensiva no uso de energia. "O negócio de energia não pode ser separado do todo. Ele só é competitivo porque está acoplado à produção de celulose. É isso que confere eficiência ao negócio", destaca Pousada. A possibilidade de geração de energia em fábricas de celulose está associada à queima do licor preto, resíduo proveniente do cozimento da madeira, que é queimado na caldeira de recuperação, gerando vapor. Além disso, é possível aproveitar os resíduos do processo de transporte, picagem e peneiramento da madeira. Conforme levantamento da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), em 2009 a matriz energética do setor era composta por licor negro (65%), biomassa (19%), gás natural (8%), óleo combustível (6%) e outros (2%).
Stella Fontes
Fonte: Valor Econômico
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