quarta-feira, 12 de setembro de 2012

No Brasil, poucos fundos ganham com a febre das commodities




A disparada do preço das commodities agrícolas tem levado fundos de investimento no exterior a aumentarem as apostas nesse mercado. No Brasil, no entanto, são poucas as gestoras que se aventuram a investir diretamente em commodities, seja pela falta de analistas especializados na alocação desses ativos ou pela baixa liquidez do mercado de derivativos agrícolas no país. Casos como os da BB DTVM e da pequena gestora Sparta são exceções nesse cenário.

Com a publicação da Instrução 450, em 2007, pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que autorizou a aplicação em ativos no exterior, alguns gestores passaram a investir direto nas bolsas lá fora.

Foi o caso da Sparta Administradora de Recursos, cujo fundo Sparta Trends acumula ganho de 32,94% no ano. Além da variação cambial, uma vez que os contratos são negociados em dólar, a alta do preço das commodities agrícolas contribuiu com o excelente desempenho da carteira.

O fundo investe 100% do patrimônio em contratos futuros de commodities agrícolas negociadas na Bolsa de Chicago e na Bolsa de Nova York. "O foco do fundo é investir em commodities em que o Brasil é um dos maiores competidores mundiais, como açúcar, soja e café", afirma Ulisses Nehme, sócio da Sparta.

O ganho neste ano veio principalmente das posições compradas (apostando na alta) em contratos futuros de soja e milho, que acumulam ganho de 44,65% e 21,95 %, respectivamente.

A gestora ainda ganhou com posições vendidas em açúcar, que acumula no ano queda de 14,95% na Bolsa de Nova York. "As safras de cana de açúcar no Brasil e na Índia foram boas neste ano, o que levou o preço do açúcar para baixo", afirma Nehme.

A seca que atinge o meio-oeste dos Estados Unidos, maior produtor mundial de milho e soja, além da falta de chuva em importantes regiões produtoras de grãos como Argentina, Sul do Brasil e Paraguai, que prejudicou a safra 2011/2012, elevaram o preço das commodities agrícolas neste ano.

O índice S&P GSCI Agriculture Index, que acompanha o desempenho das commodities agrícolas, acumulava alta de 16,27% neste ano, até 5 de setembro. A alta desses ativos levou os fundos a dobrarem a posição líquida comprada nessas commodities nos mercados futuros nos Estados Unidos, passando de 418.253 para 851.812 contratos no ano, de acordo com dados da Commodity Futures Trading Commission (CFTC).

Enquanto as commodities agrícolas estão em tendência de alta, as metálicas têm sofrido com a desaceleração do crescimento mundial, principalmente da China. O índice London Metal Exchange Index, que acompanha o desempenho de seis commodities metálicas, acumulava queda de 1,31% no ano até 5 de setembro. "A perspectiva de menor crescimento para a China contribuiu para que as commodities metálicas tivessem uma performance não tão boa neste ano", afirma Carlos Massaru Takahashi, presidente da BB DTVM.

A gestora do BB também tem oferecido aos investidores a possibilidade de investir em commodities agrícolas por meio dos fundos de capital protegido. A gestora tem atualmente três carteiras: uma que investe em uma cesta variada de commodities, que inclui açúcar, soja, cobre, platina, petróleo, níquel e ouro; um outro fundo que segue um índice composto por commodities agrícolas (Deutsche Bank Liquid Commodity Index), que contempla milho, soja e açúcar; e um terceira carteira que investe em ouro e petróleo.

O fundo da gestora que segue a cesta de commodities agrícolas, o BB Multimercado Capital Protegido Commodities Agrícolas II, lançado em dezembro de 2011, é o que apresenta a melhor performance, acumulando alta de 48,57% desde o lançamento até o final de agosto. Para Nehme, a tendência ainda é de alta para as commodities agrícolas, principalmente o milho, uma vez que a quebra de safra nos Estados Unidos foi expressiva.

Para identificar as tendências de mercado, a gestora conta na equipe com engenheiros agrônomos que vão até o campo para conversar com os produtores e acompanhar como será a nova safra antes que as apostas sejam feitas no mercado.

Além do Sparta Trends, a gestora tem mais três carteiras que aplicam no mercado de commodities. Todas as alocações são realizadas nas bolsas no exterior. "Só operamos o mercado de boi gordo na BM&F, e o restante dos contratos agrícolas negociamos nas bolsas lá fora, que têm mais liquidez", diz Nehme.

Apesar do número pequeno de fundos que investem em commodities no Brasil, Takahashi vê espaço para o lançamento de novas carteiras. A própria BB DTVM estuda lançar um portfólio para investir em fundos especializados nesse mercado no exterior. "O mercado de commodities no Brasil é pequeno e não há equipe de pesquisa forte nessa área."


Fonte: Valor Econômico

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Cana-de-Açúcar

Açúcar