sexta-feira, 3 de agosto de 2012
Vantagem das commodities suprime culturas como feijão
A atratividade de preço das principais commodities agrícolas no mercado global - em que são negociadas com base em contratos que vão até 2015 - pesa na decisão do agricultor brasileiro sobre quais culturas irá privilegiar.
O feijão, em especial, cujo volume de produção diminuiu 26% entre 2010 e este ano, é um exemplo de como os produtores rurais têm dado preferência ao milho e à soja - produtos supervalorizados após previsões negativas sobre as safras norte-americanas.
"O agricultor verifica a possibilidade de preços. A soja e o milho estão muito atraentes", explica o superintendente estadual de Política e Economia Agrícola de Minas Gerais, João Ricardo Albanez.
Coordenador-geral do Centro da Inteligência do Feijão (CIFeijão), Albanez frisa que houve quebra nas últimas três safras do grão (períodos inseridos em um mesmo ano-agrícola) no Brasil.
O clima seco fez o produtor de Campinas (SP) Guilherme Eltink reduzir em 40% sua área de feijão, cultura que planta somente no inverno. E os preços atrativos o levaram a ampliar, paralelamente, em 40% a segunda safra de milho.
"Consigo mais produtividade plantando milho do que com o feijão", acrescenta o agricultor, proprietário de 240 hectares, que também planeja, motivado pelas cotações, expandir a cultura da soja durante o próximo verão.
A decisão de Eltink em relação ao feijão, levada a dados macroeconômicos referentes à safra passada, traduz-se em reduções de área plantada de 19,9% (para 1,44 milhão de hectares) na temporada de inverno e de 18% (para 3,27 milhões de hectares) nos três períodos que compõem a cultura.
"O grande ponto, sem dúvida, como são culturas concorrentes [com a do feijão], é a rentabilidade da soja e do milho", diz o especialista em grãos Glauco Monte, da consultoria FCStone.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) avalia a situação do mesmo modo.
"Os preços da soja e do milho têm batido recordes de mês em mês, o que incentivou as vendas antecipadas para o resto de 2012 e 2013. Esses produtos se tornaram muito rentáveis para o produtor. Se ele teve qualquer problema com alguma outra cultura, climático que seja, basta para que a substitua [pelas commodities]", analisa Monte.
E problemas não faltaram na produção de feijão dos últimos dois anos. Entre 2011 e 2012, ao longo das três safras, o volume e a qualidade do grão foram comprometidos por falta de chuva nas regiões sul e nordeste, segundo Albanez, do CIFeijão.
No Estado de São Paulo houve geadas pontuais nas áreas rurais ao sul e ao noroeste, de acordo com Eltink, o produtor, que viu a própria produtividade cair.
Se na safra de 2010/11 era possível produzir, em média nacional, 15,58 sacas de feijão por hectare, este índice caiu para 14,93, ou seja, 4,2% a menos, na temporada seguinte, conforme os dados da Conab.
O feijão é cultivado em praticamente todo o território nacional, porém grande parte da produção está concentrada em apenas dez estados, responsáveis por cerca de 85% da produção nacional.
A periodicidade da cultura é dividida em três partes, sendo estas "feijão das águas", seca e de inverno. Atualmente, na fase seca, vigora o uso de irrigadores.
"Agora está na mão dos grandes, que têm pivô [de irrigação] pra fazer compensar o preço", observa Eltink.
Tendências
Os valores da saca de 60 quilos de milho, hoje no mercado interno, variam entre R$ 22 e R$ 24, a depender da região em que é negociada. Na Bolsa de Chicago (CME, na sigla em inglês) negocia-se o bushel (25,4 kg) a US$ 8,06.
"Com essa alta de preço, já garanti todo o estoque de sementes para o ano que vem", conta o produtor de Campinas.
Com a soja, a tendência expansiva é ainda maior, de acordo com Monte, que atenta para a existência de contratos de produção fechados, "eventualmente", até para 2015. "É um produto muito líquido em termos de venda", diz.
"A soja é a cultura que tem apresentado a maior rentabilidade. Com a quebra de safra norte-americana, existe uma grande expectativa em relação aos preços, o que leva a um aumento da produção", retoma o mineiro João Ricardo Albanez.
Fonte: DCI
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