quarta-feira, 22 de agosto de 2012
Será que o Brasil vai entrar nos trilhos?, por *GLAUBER SILVEIRA
Foi muito comemorado o anúncio do Governo Federal em que coloca a logística em destaque na sua agenda estratégica. Felizmente o governo se deu conta de que quando não se é capaz de fazer, é preciso buscar alguém que faça. Para nós, do setor produtivo, que penamos e pagamos o frete mais caro do mundo (já que infelizmente a nossa exportação ainda é prioritariamente de commodities), o Programa de Investimentos em Logística para Rodovias e Ferrovias traz esperança de termos um modal de transporte mais competitivo. Pelo programa, nos próximos 25 anos serão aplicados R$ 133 bilhões em logística.
Antes tarde do que nunca... O governo entendeu que o Brasil precisa de investimentos em infraestrutura numa velocidade e no montante que dificilmente o governo brasileiro conseguiria fazer, já que -- não so' por culpa deste governo, mas de todos os outros --, muito pouco se investiu e, pior, o que foi investido em infraestrutura de transporte foi equivocado ao priorizar rodovias ao invés de modais mais econômicos e sustentáveis, como ferrovias e hidrovias.
Para o setor da soja, a logística baseada em rodovias tem sido um custo alto demais, principalmente porque a soja exportada do Brasil está, em média, a 1.000 quilômetros dos portos. De toda a soja produzida em nosso país, 80% é exportada, sendo a metade na forma de grãos e o restante, prioritariamente, na forma de farelo, ou seja, são mais de 55 milhões de toneladas pagam alto frete.
Do total da soja brasileira exportada, 53% saem via rodovias, 36% via ferrovias e 12% por hidrovias. Sem dúvida, o modal rodoviário é mais caro que o ferroviário. No resto do mundo o transporte ferroviário custa a metade do rodoviário, menos no Brasil, onde, infelizmente, esta diferença não existe devido ao seu modelo de concessões..., aqui não se tinha o mais elementar motor da concorrencia, que e' o direito de passagem, ou seja, no trilho passava somente o vagão de uma companhia vencedora da concorrencia..., isto agora mudou, e deve aumentar a competitividade entre os modais.
Para termos uma idéia, quando comparamos com outros países o custo médio do frete pago pelos produtores, vemos que em Iowa (EUA) para colocar a soja no porto de Shanghai (China) o custo é de 97 dólares a tonelada, enquanto que a soja que sai de Sorriso (MT) e vai ao mesmo porto, o frete custa 174 dólares, ou seja, simplesmente 77 dólares a mais..., e estamos falando das mesmas distâncias. Com isto, os produtores do Cerrado brasileiro desembolsam 2,2 bilhões de dólares a mais do que seu concorrente norte-americano, por exemplo.
Um dos fatores que tem agravado a logística brasileira sem dúvida é o modelo de concessões. Felizmente o governo tem buscado melhorar esse quesito, sendo fundamental que separe na concessão de infra-estrutura dos serviços de transporte e frete, o dito "direito de passagem" que em qualquer país desenvolvido e inteligente permite em seus modais. Isso possibilita que duas ou mais companhias de transporte usem a mesma infra-estrutura, o que faz aumentar o número de companhias de transporte..., afinal o preço do quilômetro rodado aqui continuar custando o dobro de outros países é uma situacao inadimissível.
Os problemas de logística têm impedido o Brasil de crescer como deveria e tem tornado o escoamento um peso no bolso dos produtores. O investimento no setor é um importante passo para o desenvolvimento sustentável. O Brasil está em uma posição importante, com um potencial gigantesco para o fornecimento de grãos no mundo, mas precisamos de investimentos para encurtar distâncias.
Enquanto a China investe R$ 500 bilhões/ano em logística, e os EUA R$ 300 bilhões, o Brasil comemorou, em 2011, R$ 83 bilhões!!!???. É muito pouco quando sabemos, por exemplo, do déficit da infra-estrutura de transporte, armazenagem e portuária do país.
Para demonstrar ainda mais essa falta de investimento vejam esta comparacao: enquanto o Brasil tem investido cerca de 2% do PIB em logística, países emergentes como Índia e Tailândia têm investido de 6 a 15%, respectivamente. E o que é pior, só para evitar a deterioração da estrutura que temos deveríamos investir 3% do PIB, segundo estudos publicados no ano passado pela InterB Consultoria, ou seja, não estamos investindo sequer para a manutenção da estrutura que temos.
Sem dúvida, precisávamos de um programa mais agressivo que trouxesse respostas ao potencial crescimento do setor agropecuário do Brasil. Esperamos que este programa realmente saia do papel e do discurso e o nosso país, de uma vez por todas, faça a opção de entrar nos trilhos, que é muito mais sustentável, fazendo investimentos em modais que sejam importantes em longo prazo e mais econômicos.
Porém, acima de tudo esperamos que se faça o que está planejado, pois, como está escrito na apresentação feita pelo próprio governo, esta é a primeira iniciativa estruturada para dotar o país de um sistema de transporte adequado, após duas décadas de baixo investimento.
GLAUBER SILVEIRA é produtor rural, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) E–mail: glauber@aprosoja.com.br Twitter: @GlauberAprosoja
Fonte: NA
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