segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Nas bombas, etanol não vale a pena há dois anos




Pelo segundo ano consecutivo, os motoristas mineiros serão obrigados a abastecer com gasolina devido aos altos preços do etanol nas bombas. Com a política de biocombustíveis relegada a segundo plano pelo governo federal, a produção da indústria de álcool recuou, apesar do aumento da frota e a consequente necessidade de maior disponibilidade do produto. Até a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, reconheceu nesta semana a importância do etanol para reduzir o volume de combustível importado e os custos da companhia, possibilitando a manutenção do preço da gasolina nas bombas. No entanto, os motoristas mineiros devem completar, em setembro, um ciclo de 24 meses em que não vale a pena optar pelo etanol na hora de abastecer. Isso porque, para ser vantajoso, o litro do etanol deve custar, no máximo, o correspondente a 70% do preço do litro da gasolina. Como isso não ocorre há dois anos, a venda do biocombustível nos postos retrocedeu a patamar semelhante ao do início de 2007.

Até 2009, o volume de vendas nos postos mineiros vinha crescendo vertiginosamente, acompanhado pelo aumento do número de automóveis em geral e pela opção da indústria em produzi-los com motores bicombustível. De 2007 a 2009, a comercialização mais que dobrou, tendo variado 144%. A partir daí, no entanto, a demanda sofreu redução drástica em função da elevação dos preços. A revenda do combustível feito à base de cana-de-açúcar caiu 57,34% e, segundo representantes do setor, a tendência é que essa derrocada continue até que medidas de incentivo sejam tomadas para retomada da produção.

Na verdade, a indústria sucroalcooleira não possui, atualmente, condições sequer para retomar o patamar de mistura de etanol na gasolina, de 25%, diante da baixa produção e do insuficiente estoque. O diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP), Alan Kardec, disse ontem que a discussão só deve ser retomada em abril do ano que vem, quando se tiver as primeiras previsões da safra da cana-de-açúcar.

Para abastecer a crescente demanda da frota nacional até 2020 seria necessária a construção de 100 usinas, segundo estimativa da Associação das Indústrias Sucroenergética de Minas Gerais (Siamig). No país, há 413 usinasem operação - sendo 41 delas em Minas Gerais. Desde 2010 novas plantas não saem do papel. Os investimentos estimados para alavancar o mercado nos próximos oito anos seriam da ordem de R$ 100 bilhões, mas, a curto prazo, não há recursos previstos para o estado. "O setor está disposto a investir, mas o produto precisa, antes de mais nada, ter competitividade", diz Luiz Custódio Martins, presidente a Siamig.

Enquanto isso, as importações de gasolina estão batendo no teto. O crescimento vertiginoso da frota, associado à redução da disponibilidade do etanol, obriga a Petrobras a produzir mais gasolina, mas as refinarias da empresa também atingiram o limite. O país abriu 2010 com importações de 17 mil barris ao dia e, no fim do mesmo ano, já importava 45 mil barris ao dia. Atualmente, as importações estão próximas de 80 mil barris ao dia, o que obrigou a presidente Petrobras, Maria das Graças Foster, a convocar o setor sucroalcooleiro a retomar os investimentos. "O etanol volta quando os usineiros entenderem que os preços justificam os investimentos. O etanol é o perfil do Brasil. Tenho certeza de que o etanol fica e vai trazer resultados. Gasolina e álcool são inseparáveis", disse ela, em evento para divulgação de resultados da estatal - que apontaram prejuízo de R$ 1,3 bilhão no segundo trimestre.


Pós-crise

Desde a crise mundial iniciada com a quebra do banco americano Lehman Brothers, em 2008, oetanol, anunciado pelo governo do ex-presidente Lula como o produto que transformaria o Brasil em uma Arábia Saudita verde vem sofrendo sucessivos golpes, deixando o horizonte dos biocombustíveis cada vez mais deserto. A crise de crédito, que barrou os investimentos, o preço congelado da gasolina, que baliza o valor pago nas bombas pelo etanol, a elevação dos custos, a queda da produtividade e, por fim, a descoberta do pré-sal - que passou a concentrar os investimentos -, estagnaram o combustível.

Nos últimos dois anos o etanol só foi vantajoso, e por curtos períodos, nos estados de Goiás, Mato Grosso e São Paulo, que conta com menor alíquota de ICMS. Em Minas, o uso do etanol atingiu seu auge em 2009, quando chegou a representar 40% do combustível utilizado pelos consumidores, considerando as vendas da gasolina C. Em 2010, essa participação caiu drasticamente, atingindo 23%. A queda continuou em 2011, quando a participação do etanol fechou o ano em 14% do mercado. Em 2012, até o momento, o etanol representa 11% do consumo de combustíveis. Nem a redução da alíquota do ICMS - de 22% para 19% -, válida desde 1º de janeiro, contribuiu para alavancar as vendas. "Não diria que é o fim do etanol. Mas o princípio do fim. Um ciclo que acontece para, daqui a três ou cinco anos, ter uma nova ressurreição", prevê Adriano Pires, presidente do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).

Pedro Rocha Franco e Marinella Castro
Fonte: Jornal Estado de Minas

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