quarta-feira, 15 de agosto de 2012
Milho: Problema de peso e volume
Preço e demanda vão bem, mas comprador quer ‘produtor-guardião’ e grão se avoluma em armazéns, silos-bags e ao céu aberto
O final da colheita do milho segunda safra em vários municípios de Mato Grosso, não significa o fim das atenções e ou preocupações do produtor com a cultura. A ex-safrinha, agora com 15,58 milhões de toneladas - 122% acima do ciclo anterior - toma dimensão do seu tamanho em problemas já que o produtor está tendo de acondicionar os volumes por um prazo de tempo além do esperado. A exigência do mercado impõe custos adicionais, pois em muitos casos é necessário ‘terceirizar’ a estocagem entre outros colegas e ter cuidados redobrados para entregar o milho, seja daqui a um mês ou no final do ano, com o mesmo padrão de qualidade com o qual foi negociado.
Compradores, as tradings, exigem que o produtor se responsabilize pelo armazenamento do produto negociado sob a defesa de que a capacidade de estocagem delas está no limite. A alegação tem base em fatores internos e externos. No Brasil, a greve dos fiscais federais está impedindo a movimentação do grão que deveria ser exportado e assim, abrir espaços nos silos. Outro fator, é que boa parte das compras travadas entre as tradings e seus compradores é para entrega futura, para setembro, outubro, em diante.
Como explica o vice-presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja), Naildo Lopes, essas empresas estão transferindo responsabilidades ao produtor, já que com a venda de um produto em estoque a remoção deveria ser breve, e isso não ocorre. “Guardar milho tem custos, tanto o de armazenagem, quanto de tratamento – algumas vezes – pelo controle de pragas de grão estocado e a trading quer pegar o produto só quando tiver de cumprir o contrato com seu comprador. Quer pegar o milho e entregar ao cliente, queimando etapas comuns e onerosas de carga e descarga”.
Preço e demanda não estão sendo entraves para esta safra – preço atual em plena supersafra, média de R$ 22 no Estado, está acima do observado em igual período do ano passado, R$ 18, quando havia quebra de safra – “comprador existe, só que as condições atuais imputam responsabilidades e custos que não deveriam mais sair das mãos do produtor. Estamos a pouco mais de um mês do início da safra 2012/13 de soja e portanto, nossa atenção deveria estar 100% voltada para o plantio”, completa Lopes.
Para seduzir o produtor, há tradings ofertando R$ 23 pela saca do milho, pagando no final deste mês para só retirar o cereal em outubro. Outra estratégia é pagar de R$ 1 a R$ 1,5 a mais pela saca. “A cada mês que o milho fica estocado há uma quebra técnica, o grão perde peso. Fora isso, caso tenha havido fungos nas lavouras ele pode migrar junto com o grão estocado e contaminar o restante. Um furo no milho feito por lagarta, por exemplo, é a porta de entrada e o tratamento, só com fungicida”, explica. “A situação só não é pior porque a safra de soja fluiu, quase não há mais nada nas mãos do produtor e há ainda quem tenha estocado em silos-bags, alternativa que vale enquanto são chegarem as chuvas”. Os silos-bags são alternativas de estocagem de grãos na lavoura mesmo, grandes bolsões que reduzem a demanda por armazéns. “Quando começar a chover e sob o sol quente, o milho começa a fermentar”.
O presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja/MT), Carlos Fávaro, considera essa situação “caótica” e projeta problemas adiante, já que a partir de dezembro, os silos deveriam estar livres para começar a recepcionar a nova soja. “Temos projeções recordes para a leguminosa e quanto mais o clima favorecer, mas haverá grão precoce, ou seja, chegando mais cedo aos armazéns”, adverte.
Fonte: Diário de Cuiabá
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