terça-feira, 21 de agosto de 2012

Concessão? Privatização? Não importa




O pacotaço de R$ 133 bilhões divulgado pela presidente Dilma Rousseff na manhã de quarta-feira 15 abriu diversas polêmicas. A mais ruidosa delas ocorreu num campo conceitual. Os projetos de recuperação e construção de rodovias e ferrovias seriam uma concessão ou uma privatização?

Trata-se de uma discussão absolutamente desimportante, inócua, que em nada vai ajudar a resolver os gigantescos problemas logísticos que travam a economia brasileira.

Não existe aí sequer um embate ideológico, como querem alguns. No máximo, há uma troca de farpas que, de tempos em tempos, ressurge entre petistas e tucanos. O ponto alto da discussão ocorreu em 2006, durante a campanha para o segundo turno da eleição presidencial.

Na ocasião, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que concorria à reeleição, afirmou que, se voltasse ao Planalto, o PSDB retomaria o programa de privatização da gestão de Fernando Henrique Cardoso, responsável pela transferência de controle de diversos serviços e empresas para a iniciativa privada, como as siderúrgicas e as operadoras de telefonia.

A partir daí, o candidato tucano, Geraldo Alckmin, não conseguiu se livrar da pecha de "defensor da privatização" e sofreu uma derrota retumbante - na contagem final recebeu menos votos do que no primeiro turno. Muitos analistas creditaram ao rótulo "privatista" o mau desempenho de Alckmin nas urnas.

Tudo isso serve como história e certamente ganhará ares cada vez mais saborosos no folclore político brasileiro. É seguramente munição eleitoral, tanto para o pleito municipal deste ano como para a corrida presidencial de 2014. Mas trata-se de uma discussão irrelevante do ponto de vista prático.

Concessão ou privatização, os planos anunciados pela presidente têm um mérito inquestionável, destacado até mesmo por adversários políticos do PT, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: o governo anunciou uma série de medidas integradas, que guardam uma lógica entre si, e não um amontoado de projetos sem costura.

Mais: admitiu que, sozinho, não tem capacidade (nem financeira, nem técnica) de desatar os nós da infraestrutura no Brasil. Tal constatação, aliás, já havia sido feita pelo empresário Jorge Gerdau Johannpeter em entrevista ao Brasil Econômico na edição de quarta-feira 15.

Ainda existem muitas perguntas sem respostas, como revela reportagem na edição de hoje do Brasil Econômico - o que, aliás, não é surpresa em um programa de investimentos dessa magnitude e complexidade. Um importante sinal, porém, foi disparado.

O governo está sintonizado com as demandas do país e começa a agir com olhar mais estratégico (e não só conjuntural) para a solução dos graves problemas nacionais. Resta agora tirar os planos do papel e garantir sua execução dentro dos prazos propostos e na velocidade que o país precisa.

Joaquim Castanheira - Diretor de Redação do Brasil Econômico
Fonte: Brasil Econômico

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