quarta-feira, 8 de agosto de 2012
2012 está perdido. O que será de 2013?
Até o governo jogou a toalha: o crescimento desse ano será baixo. As autoridades falam em 2,5%, o mercado estima um número levemente abaixo, de 1,9%, nós da MB projetamos no máximo 1,5%.
Todos os componentes da demanda agregada estão fracos. As exportações de manufaturados, em quantidade, tiveram resultado negativo no primeiro semestre (-3,7%), contra igual período do ano passado. Em junho, a queda foi grande: -21,6%, a despeito da desvalorização do real. A crise internacional reduziu o comércio, com a inestimável ajuda da Argentina. É bem verdade que a entrada da Venezuela no Mercosul vai revolucionar o comércio externo brasileiro; entretanto, até isso terá que esperar algum tempo. Neste ano, o saldo comercial vai cair, as importações continuarão a crescer e o vazamento da demanda para o exterior continuará importante.
Os investimentos se reduziram em todas as frentes.
Os projetos governamentais não andam, a Petrobrás deu uma saudável freada de arrumação (alguns, como o Comperj, não têm mais data certa para terminar) e muitas empresas estão postergando projetos, tendo em vista a incerteza vigente. A construção civil residencial ainda luta para tirar o atraso na entrega de apartamentos vendidos em 2009, 2010 e 2011. Naturalmente os lançamentos residenciais foram bastante contidos: segundo o Secovi, a queda foi de quase 40% em maio, em relação ao mesmo mês do ano passado. As estimativas preliminares para a formação bruta de capital ainda apontam para números muito fracos.
O consumidor ainda está muito cauteloso, mais preocupado com a redução de seus compromissos e eventuais atrasos do que em assumir novas dívidas. Os dados do comércio mostram uma migração para a compra de produtos mais baratos, cujos setores vendem bem, mas com uma nítida desaceleração. O caso dos veículos ainda é de difícil projeção, uma vez que após o início de ano medíocre, as vendas após pacote de estímulos melhoraram muito, reduzindo parte dos elevados estoques.
Entretanto, ainda não se pode separar bem o que é criação de demanda (decorrente da queda de preços advinda do imposto menor) do que é antecipação de compras devido ao caráter temporário da medida de estímulo. Só saberemos melhor o resultado depois de agosto, com ou sem prorrogação da redução do imposto. Se as vendas neste momento se reduzirem, o efeito antecipação terá sido poderoso. O que é certo é que não voltaremos a uma situação de forte crescimento do mercado, até porque, os setores de motos e de caminhões continuam absolutamente de joelhos.
A mágica de 2009 não se repetiu. A China está andando mais devagar, de sorte que um crescimento de 7,5% para este ano está de bom tamanho. No Brasil, as famílias estão endividadas e mais cautelosas, pois pela primeira vez em vários trimestres muitas empresas industriais e de construção civil estão diminuindo seus quadros.
O sistema financeiro precisa reduzir o peso da inadimplência das pessoas e a queda no crescimento da arrecadação limita de alguma maneira as possibilidades dos incentivos fiscais.
Algumas coisas também ficaram claras: em primeiro lugar o "pacotismo" não funcionou como grande estímulo, embora tenha elevado espetacularmente os pedidos de ajuda e de refresco fiscal. Em segundo lugar, cortes temporários e pontuais de tributos, paralelos a uma continuidade da elevação da carga fiscal (medida pela maior velocidade do crescimento da receita em relação ao PIB), mais complicam do que ajudam. Em terceiro lugar, a incerteza decorrente de bruscas alterações nas regras e a crise internacional deterioraram as expectativas e o desejo de investir. Em quarto lugar, para decepção de muitos a desvalorização do real não produziu o milagre que se esperava.
Finalmente, está claro que não adianta muito bombar a demanda quando os problemas estão na oferta e são mais estruturais do que se pensa.
A esse respeito, vale registrar uma coisa positiva, que é o início da atenção a questões de competitividade, como a preparação de medidas para a redução do custo da energia elétrica para a produção. Entretanto, precisamos de cautela, pois existe uma enorme falta de estudos e diagnósticos que embasem as mudanças com mais profundidade, evitando soluções apressadas, que exigem muitas reedições de MPs, o que causa grande confusão.
Este tem sido o caso, por exemplo, da chamada desoneração da folha que, na realidade, é a troca da base de cálculo da contribuição para a previdência. A universidades e boa parte dos órgãos de pesquisa, públicas e privadas, estão bastante distantes destas questões.
Pior que isso, é a forte politização de muitas análises que prestam um desserviço para o país. Apenas a título de exemplo, lembro-me de recentes e apaixonadas defesas, feitas pelos rapazes do Ipea, a propósito dos benefícios da entrada da Venezuela no Mercosul, argumentando, inclusive, a favor de efeitos positivos da integração produtiva Brasil/Venezuela. Digo isto porque o único projeto de integração que me ocorre é o da Refinaria Abreu de Lima, em Pernambuco, onde o país irmão jamais cumpriu qualquer de seus compromissos, transformando a refinaria, como já foi dito pela presidente da Petrobrás, num caso para a companhia entender e nunca mais esquecer ou repetir.
Então, o que pode acontecer em 2013? A visão oficial é que cresceremos 4,5% ou até mais, a partir de uma melhora que já estaria consolidada na virada do ano. Os argumentos a favor desta projeção se baseiam no efeito estatístico do carry-over de 2012, na retomada do consumo e na retomada dos investimentos públicos e privados, via concessões, e do melhor desempenho da Petrobrás após sua revisão dos projetos de expansão.
Minha própria percepção para o ano que vem é mais cautelosa, pelas seguintes razões:
1. A situação da Europa certamente continuará muito difícil pela grande distância entre as diversas proposições para salvar o euro e o que acontece na prática. Basta relembrar a fala do presidente do BCE no fim da semana passada, prometendo uma grande ação das autoridades e entusiasmando os mercados. Apenas no dia 27 de julho, nossa Bovespa subiu mais de 5%. Poucos dias depois o anúncio das decisões do mesmo BCE mostrou que nada havia a ser revelado exceto a discordância entre os líderes europeus. Neste meio tempo, a situação se deteriora.
2. Nos EUA a recuperação perde gás e se aproxima o momento de um corte fiscal de magnitude desconhecida, mas que será deflacionado. Uma recuperação mais forte nos EUA só em 2014.
3. O choque agrícola em curso é de grande magnitude e, dependendo das chuvas de agosto nos EUA, pode ser uma catástrofe na produção de grãos. Haverá uma pressão inflacionária em várias regiões do globo e percussões negativas na indústria de carnes.
4. No Brasil, acredito que a volta do consumidor ao mercado ocorrerá, mas de forma cautelosa. O mercado de trabalho vai arrefecer em alguma medida, pois não é possível continuar pagando reajustes salariais sistematicamente acima da produtividade. É receita certa para a queda de margem e até prejuízos, como mostram os resultados das empresas.
5. A construção civil residencial vai se recuperar, mas ainda de forma lenta.
6. O front inflacionário vai ficar mais apertado. Não é difícil que o custo alimentação no IPCA chegue no ano completo a uma alta de 10% e o IGP-M bem acima de 7%.
Em conclusão, parece-me razoável pensar em 3% ou pouco mais para o próximo ano.
José Roberto Mendonça De Barros
Fonte: O Estado de S. P
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