quinta-feira, 3 de maio de 2012
Dólar atinge R$ 1,925 e tem maior cotação desde julho de 2009
O dólar comercial subiu 0,94% e fechou a R$ 1,925 nesta quarta-feira, com máxima de R$ 1,931. Esse preço é o maior já registrado desde 17 de julho de 2009, quando a moeda fechou cotada a R$ 1,928.
Na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), o dólar com vencimento em junho apontava alta de 0,83%, a R$ 1,9355 antes do ajuste final de posições. Também na BM&F, o dólar pronto (negociações à vista) subiu 1,78%, para R$ 1,9215, e teve giro de US$ 35 milhões.
A alta da moeda tem respaldo na piora de humor externo e na queda acentuada dos juros futuros. Quanto menor a taxa de juros local menos atrativas a operações de carry trade (arbitragem de taxa de juros). No lado técnico, o viés também é de alta no preço da moeda americana. Os estudos de curto prazo mostram dólar entre R$ 1,950 e R$1,960 no mercado futuro. O contrato para junho atingiu R$ 1,942.
TENDÊNCIA DE ALTA
Para o analista técnico da MyCap (home broker da corretora Icap), Raphael Figueiredo, a moeda americana rompeu uma linha de tendência de baixa de dez anos. "Toda a valorização do real dos últimos dez anos estaria comprometida", diz o especialista.
Figueiredo também avaliou o comportamento do real com relação a outras moedas, como peso mexicano, dólar australiano e libra, e na grande maioria das comparações essa linha de tendência também foi rompida. O movimento, porém, ainda precisa ser confirmado. Por ora, diz o analista, o que se pode afirmar com algum grau de certeza é que o real não é mais a moeda mais desejada do mundo.
Para o economista e professor da PUC-Rio, André Cabus Klotzle, uma série de fatores conspira para a valorização do dólar, que, de fato, pode chegar a romper a linha de R$ 2,00 no curto prazo. Entre os fatores destacados pelo especialista está a grande incerteza por parte do investidor estrangeiro em relação à recente ingerência política sobre a taxa de juros, spread bancário (diferença entre o custo dos bancos para captar recursos e o que cobram na ponta, de consumidores e empresas) e intervenção cambial.
"A percepção é de que a política econômica mudou, e a equipe que a conduz busca um 'atalho' para a ordem natural das coisas. Em vez de realizar as reformas estruturais necessárias a uma queda consistente dos juros, optou-se por 'forçar' a redução da taxa básica", explica.
Na visão de Klotzle, sem as reformas tributária e previdenciária, cortes mais consistentes nos gastos de custeio e combate efetivo à inflação (cuja meta, na sua avaliação, não é mais de 4,5%, mas algo próximo a 6%), a queda dos juros acrescentará mais gargalos ao crescimento futuro e gerará inflação ascendente.
"Esse é o pior cenário para o capital estrangeiro", diz. Outro ponto citado pelo especialista é que o BC parece disposto a seguir a retórica da equipe econômica, e potencializar a alta do dólar, descolando o real das outras moedas emergentes.
Para Klotzle, não existe mais um patamar próprio para intervenção, como era o nível de R$ 1,90 no fim do ano passado.
"Parece que foi abandonada quaisquer estratégias de suavização do movimento de alta, e a nova ordem é deixar o câmbio solto e sempre para cima, seja com movimentos graduais ou, mesmo, bruscos, como os observados nos últimos dias, sem receios ou ressalvas", concluiu.
Fonte: Folha Online
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