terça-feira, 17 de abril de 2012
País deve se preparar para vazamentos de óleo
Quando se soube de grandes reservas no pré-sal, o ex-presidente Lula não titubeou. Veio a público, com as mãos cheias de petróleo, dizer que o país estava rico. E atiçou a cobiça nacional, ao declarar que os royalties não eram de alguns estados, mas de toda a população brasileira. A verdade, no entanto, é um pouco diferente do Eldorado apresentado por Lula. O pré-sal não é ouro que aflora na superfície após uma chuva forte, mas precisa ser explorado e, para isso, há muito esforço a ser feito.
Há desafios tecnológicos, problemas com contratantes - também no exterior - e obstáculos ligados ao financiamento de obras e serviços. A exploração do pré-sal será muito complexa. A Petrobras realmente tem alta tecnologia em águas profundas, só que o pré-sal, além de águas mais profundas, está a quase o dobro da distância dos poços da Bacia de Campos. Em vez de 150, 200, os campos se localizam a 300 km da costa. Isso cria problemas de logística, de pessoas e peças, tanto que se fala na criação de "ilhas", para servirem como apoio à exploração.
A Booz & Co. avaliou o investimento para o pré-sal em US$ 650 bilhões, mas trata-se apenas de um ensaio. O preço pode sair por US$ 1 trilhão ou até mais. E há muito esforço pela frente.
Os vazamentos da Chevron são relevantes, mas não são os únicos.
Embora pouco significantes, a Petrobras já computa sete vazamentos este ano.
A nova titular da estatal, Graça Foster, criou um grupo de trabalho com meta de vazamento zero, mas ela sabe que vazamentos são comuns na atividade. E não se pode esquecer que, em 2001, a P-16, da Petrobras, afundou, com 11 mortes. Petróleo no mar é coisa séria...e perigosa. O Brasil tem uma grande fortuna a 5 mil metros de profundidade. Mas, para ser explorada, essa riqueza exigirá muito investimento, novas tecnologias e muito esforço dos engenheiros da Petrobras, além de compra de tecnologia de estrangeiros.
Já que a produção do Brasil, hoje em 2 milhões de barris diários, vai triplicar até 2020, seria o caso de se criar um sistema antipoluição em que governo, universidades e petrolíferas trabalhassem juntos para evitar danos.
Afinal, é impossível se impedir vazamentos e, diante disso, deve-se reagir com frieza e eficiência, tratando de conter o problema e prevenir para o futuro. Ou alguém imagina explorar petróleo no mar, com milhares de poços e centenas de plataformas sem um acidente sequer? Deve ser formado um ágil esquadrão antipoluição, com dutos de emergências, bóias de delimitação, sugadores, frota especializada e acompanhamento de terra, com integração entre o concessionário do campo, Petrobras, Marinha, Agência Nacional do Petróleo e entidades oficiais de ambiente.
O pré-sal é mina de ouro. Só que distante da costa, em águas profundas e com aplicação de tecnologia experimental, em alguns casos. A par de providências exigidas dos próprios exploradores dos campos, o governo tem de se equipar para atuar com eficiência, desde a detecção rápida, via satélite, seguida por intervenção direta e solução de todos os detalhes dos indesejados mas prováveis problemas que, infelizmente, ocorrerão. Não adianta aplicar multas às empresas de petróleo e fazer aparência de surpresa ante o que está por vir.
Sérgio Barreto Motta
Fonte: Portal Monitor Mercantil
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