sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Uso de bagaço deve dobrar produção de etanol, mas preço não cai




Uma nova tecnologia para produzir etanol com bagaço e palha de cana pode dobrar a produção do combustível no Brasil. A avaliação é da multinacional dinamarquesa Novozymes, que inaugurou na semana passada um centro de pesquisa e desenvolvimento para o setor de bioenergia em Araucária (região metropolitana de Curitiba).

Atualmente, o etanol é extraído diretamente do caldo da cana-de-açúcar. Cada tonelada de cana rende 45 litros de combustível e 270 quilos de bagaço. Esse bagaço pode gerar mais 40 litros de etanol, quase dobrando a produção para 85 litros, diz Benjamin Raerup Knudsen, gerente nacional de pesquisa e desenvolvimento da Novozymes.

"Isso eliminaria a necessidade de importarmos etanol. Hoje, o Brasil importa 1 bilhão de litros por ano, que equivale a 4% dos cerca de 26 bilhões de litros que serão produzidos em 2011", diz Fernandes.

Apesar do aumento da produtividade, no entanto, isso não deve reduzir o preço do álcool combustível para o consumidor final. Os executivos da Novozymes são cautelosos sobre uma possível queda do preço. "Só o tempo dirá", afirma Fernandes. "Não esperamos que o etanol de bagaço de cana vá se tornar mais barato que o etanol obtido a partir do caldo da cana-de-açúcar", diz o vice-presidente executivo mundial da empresa, Per Falholt.


Uso de enzimas permite a produção a partir do bagaço

O etanol de segunda geração é produzido a partir do bagaço ou da palha de cana-de-açúcar. Para isso, são necessárias enzimas que quebram as cadeias de celulose em açúcares fermentáveis, que são a matéria-prima para o combustível.

"Com o novo laboratório, teremos maior capacidade de realizar pesquisas de enzimas para a produção do etanol celulósico, ou de bagaço de cana", afirma Pedro Luiz Fernandes, presidente regional da empresa na América Latina.

"O etanol de bagaço de cana será uma das alternativas para o Brasil assegurar o atendimento da demanda doméstica nos próximos anos. Ele irá permitir que os produtores obtenham mais valor pelo mesmo hectare de cana-de-açúcar. E, hoje, em torno de 65% a 70% do custo do etanol vem dos custos da agricultura", diz.


Produção comercial deve estar no mercado só após 2013

A produção do etanol de segunda geração não deve começar antes de 2013 ou 2014. "É preciso passar da fase de laboratório à produção em escala de demonstração, usada para um ajuste fino do processo, e daí à produção comercial", declara Falholt. "Para isso, precisamos de investidores para erguer a primeira fábrica de demonstração."

A Novozymes acompanha negociações de indústrias do setor canavieiro interessadas em abrir a primeira fábrica brasileira de demonstração do etanol de segunda geração. Esperam contar com R$ 1 bilhão de uma carteira de investimentos específica para o desenvolvimento de tecnologia no setor sucroenergético mantida pelo BNDES e pela Finep.

"Mas as negociações não estão concluídas. Por isso, não podemos revelar nomes", diz Fernandes. Atualmente, a empresa já colabora com a Petrobras, o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) e a Dedini, entre outras, em pesquisas de biocombustíveis de segunda geração.

Segundo os executivos, é provável que a fábrica seja erguida em São Paulo. "É o mais lógico", afirma Fernandes. "Temos 425 indústrias canavieiras, das quais 65% em território paulista."

"É uma questão de logística. O bagaço tem de estar o mais perto possível da fábrica. O baixo custo do bagaço é uma grande vantagem do Brasil nessa corrida, diz Knudsen.


Empresa defende uso de cereais para fazer combustível

A Novozymes desenvolve e fornece enzimas para a produção do etanol a partir de cereais, já produzido no Brasil em Dois Córregos (SP) pela Cereale. A empresa também é fornecedora da Usimat, que deve começar a produzir álcool a partir do milho em fevereiro do ano em Campos de Julho (MT), e vê nos cereais outra alternativa para atender a demanda de etanol no país.

De acordo com números divulgados pela empresa, com 50% do milho safrinha mato-grossense é possível produzir cerca de 2,5 a 3,2 bilhões de litros de etanol.

Com o arroz fora de especificação hoje descartado por produtores do Rio Grande do Sul, poderia-se atender até 50% da demanda de etanol no Estado -500 milhões de litros por ano.

A empresa vê "um cunho fortemente político" nas críticas ao uso de alimentos para a produção de biocombustíveis. Para a multinacional dinamarquesa, é possível extrair combustível dos cereais e manter algo de seu valor alimentício.

"Um terço do volume do grão do milho permanece como concentrado proteico para alimentação do gado (após a ação das enzimas). Grande parte dos cereais produzidos no Brasil vai para a indústria alimentar, e a produção de etanol mantém a proteína e a fibra para uso alimentar. E há regiões em que a elevada produção de cereais não encontra demanda suficiente", afirma documento da assessoria de imprensa da empresa.

Rafael Moro Martins
Fonte: UOL

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Cana-de-Açúcar

Açúcar