No ano passado, MT conquistou o topo do ranking e detém a maior capacidade de processamento do grão no Brasil
Mato Grosso, maior produtor de soja do Brasil, se tornou no ano passado também o Estado com a maior capacidade instalada para o processamento do grão. Com a chegada de novas indústrias, atraídas principalmente pela proximidade da originação da matéria-prima (produção) e pela concessão de incentivos fiscais, deixou a terceira posição de 2008 para assumir a liderança, mais uma vez, ultrapassando o Paraná.
Conforme levantamento da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), 13 plantas estão instaladas em Mato Grosso, das quais duas estão paradas e uma processa o caroço do algodão. A capacidade total estadual é de 36,6 mil toneladas/dia e de 12 milhões ao ano. No Paraná, a capacidade instalada é de 35,6 mil t/dia, o que ao ano vai a pouco mais de 11 milhões de t. Considerando que Mato Grosso colheu na safra 10/11 mais de 20 milhões de toneladas – recorde – e que na atual temporada pode chegar a até 22 milhões de t, há espaço para o segmento industrial se expandir. Entre as atuais capacidade de esmagamento para transformação do grão em farelo ou óleo e a produção extraída das lavouras de soja, há uma sobra de 8 milhões de toneladas. Esse montante tem sido destinado ao mercado internacional na forma in natura (grão).
O reflexo da industrialização da soja, além de agregar valor ao grão de forma doméstica, é a redução gradual dos volumes exportados in natura. No ano passado, 46% da produção foi embarcado na forma de grão. Em 2009, 59%; em 2008, 49%; em 2007, 44%; em 2006, 59% e para este ano, até setembro, foram 38%, mas a expectativa da Abiove é de que feche em 40%.
A transformação da soja em óleo e farelo é apenas um primeiro estágio do processo de agregação de valor à matéria-prima defendida pela Abiove. “Mato Grosso vem exportando cada vez menos o grão. A originação atrai indústrias que estão fomentando o consumo interno, principalmente de farelo, utilizado como alimento de aves e suínos. O processamento interno atrai outras indústrias como as de abates de aves e suínos. O óleo vem atendendo a uma crescente demanda pelo biodiesel. O ideal não é mais exportar o farelo ou o óleo e sim carnes que o farelo ajuda a produzir. Além de preços, a vantagem competitiva entre se exportar um quilo de carne e um quilo de soja torna o primeiro muito mais atrativo”, observa o economista Rodrigo Feix, da Abiove. Esse seria o outro estágio da agregação de valor, aquilo que costumeiramente se ouve falar no Estado como verticalização da produção, a transformação da proteína vegetal (soja) em proteína animal (aves e suínos).
O Diário pediu à assessoria da Secretaria de Estado de Indústria, Comércio, Minas e Energia (Sicme) dados relativos aos últimos investimentos deste segmento, em Mato Grosso, mas até o fechamento desta edição não foi atendido.
EXPORTAÇÕES – A valorização da soja no mercado internacional tem feito toda a diferença no saldo comercial das exportações mato-grossenses do complexo soja. No acumulado até setembro, a receita aumentou em 17% na comparação com o mesmo período de 2010. Conforme Feix, o Estado exportou em nove meses US$ 5,4 bilhões ante US$ 4,6 bilhões. “Em volume físico houve redução, de 8,4 milhões de t para 7,8 milhões. O ganho no período foi motivado pela valorização externa da commodity”, explica. O economista acrescenta ainda que neste ano o preço médio da tonelada é de US$ 494. Em 2010 foi de US$ 377 e em 2009, US$ 394 de t.
Feix acredita em uma movimentação atípica nos próximos três meses em relação à soja. “Ao contrário da queda brusca das exportações e vendas em geral no período, neste ano haverá procura maior em função dos reflexos da quebra estimada da produção norte-americana”, cenário que abre espaço para preços melhores também. “Em função desta eventual procura é que projetamos que 40% da safra mato-grossense será exportado em grão ante os atuais 38%”. A predileção do mercado pelo grão - leia-se China, maior parceiro comercial do Brasil e do Estado – é uma tendência que durará no médio e longo prazo, porque a China quer processar o grão de forma doméstica. Os chineses são apenas o quarto maior produtor mundial, mas em 2010 se tornaram os maiores processadores, ultrapassando os Estados Unidos, maior produtor mundial de soja.
Fonte: Diário de Cuiabá
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