segunda-feira, 24 de outubro de 2011
Preço agrícola desacelera no atacado, mas efeito no IPCA pode ser modesto
Os preços subiram menos no atacado agrícola nos primeiros dez dias de outubro, movimento que compensou a alta dos produtos industriais, ainda influenciados pela recente valorização do dólar. A dúvida é se esse efeito nos preços agrícolas será suficiente para trazer a inflação para o teto da meta em 2011, algo considerado pouco provável pelos analistas ouvidos pelo Valor.
A desaceleração da inflação acumulada em 12 meses é esperada pelos economistas depois de ela ter atingido 7,3% em setembro, mas poucos acreditam que ela ficará dentro do limite superior da meta, que é de 6,5% para 2011.
O Índice Geral de Preços - 10 (IGP-10), divulgado ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV) variou 0,64% nos 30 dias encerrados em 10 de outubro. Esse percentual é semelhante ao do mesmo indicador do começo de setembro (alta de 0,63%), mas já mostra recuo em relação ao IGP do fechamento do mês passado, que foi de 0,75%. Essa descompressão foi puxada pelos preços agrícolas. O Índice ao Produtor Amplo de produtos agrícolas subiu 0,76% no IGP-10, bem abaixo do 1,85% do IGP-DI (fim de setembro) e também do 1,48% do começo de agosto.
No atacado, ao contrário dos agropecuários, os produtos industriais subiram mais. O IPA industrial se acelerou de 0,46% para 0,82%. Esse resultado foi fortemente influenciado pelo aumento do minério de ferro, cuja alta foi de 2,69% no IGP-10 de setembro e de 5,23% no de outubro. Só essa alta respondeu por 33% da variação dos preços no atacado geral.
Para Thiago Curado, da Tendências Consultoria, a atual leitura do IGP-10 pode ser a última com alguma influência inflacionária do câmbio, já que o dólar tem parado de subir nos últimos dias e a queda de algumas commodities no mercado internacional aparece claramente no indicador, não sendo mais compensada pela depreciação do real.
Como exemplo, ele cita o arrefecimento nos preços da soja e do café. O primeiro item se desacelerou de 4% para 1,4%, e o segundo, de 6,8% para 4,8% nas duas medições do IGP-10. "Esses produtos são sensíveis aos preços externos e refletem a queda das cotações de commodities no mercado global por conta da crise, que acaba gerando certo pessimismo", diz.
A alta dos alimentos também já mostra perda de força no varejo. O recuo foi expressivo no Índice de Preços ao Consumidor que compõe o IGP-10 (IPC-10), de 1,23% para 0,09% entre setembro e outubro. O movimento também já aparece no IPC semanal, no qual o grupo alimentação variou de 0,47% para 0,17%. Com essa ajuda, o IPC-10 recuou. Depois de subir 0,58% no começo de agosto e encerrar setembro (IPC-DI) em alta de 0,50%, o indice subiu 0,37% no período encerrado em 10 de outubro.
O IPC da cidade de São Paulo, calculado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), capturou tendência inversa: entre a primeira e a segunda quadrissemana de outubro, a taxa dos alimentos passou de 0,39% para 0,46%, após encerrar setembro em 0,37%, mês marcado por forte desaceleração no preços dessa classe de despesa.
O coordenador-adjunto do índice, Rafael Costa Lima, diz que o início da entressafra da carne e a alta do frango, que já vinha subindo nas leituras anteriores, explicam a pressão maior no grupo alimentação, mas não descarta a possibilidade de algum impacto da baixa no atacado - ainda que defasado - no IPC-Fipe.
"O efeito deve aparecer no próximo mês. Essas variações geralmente são mais suaves para o consumidor, mas os preços lá fora não subirem é algo que tende a desacelerar a inflação dos alimentos."
A desaceleração dos alimentos no varejo dará um certo alívio ao IPCA em outubro e traz a possibilidade de a meta de inflação ser cumprida neste ano, avalia o economista Fabio Ramos, da Quest Investimentos. "Esse movimento consolida o IPCA em 12 meses desacelerando e há risco de a meta ser cumprida em cima da trave", diz o analista, que revisou recentemente sua projeção para o indicador oficial de inflação em 2011, de 6,7% para 6,6%.
Curado ainda acha cedo para alterar sua projeção de 6,6%, que é a mesma desde março, mas considera pouco provável um cenário mais pessimista que já chegou a ser cogitado, no qual o IPCA fecharia 2011 próximo de 7%. "Mas contamos com nova aceleração dos alimentos e dos combustíveis em novembro, e os serviços se manterão em patamar elevado", pondera.
Arícia Martins
Fonte: Valor Econômico
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