sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Custos da produção de cana sobem 15% em área tradicional




A atual safra de cana-de-açúcar no Centro-Sul do Brasil será encerrada em pouco mais de um mês com um saldo de custos altos. Em um ciclo de forte quebra agrícola, o custo da terra e as diferenças de ganho de escala ampliam a distância entre a realidade dos fornecedores de cana das regiões tradicionais, como São Paulo, e a dos que produzem nas novas fronteiras canavieiras, como Goiás.

Projeção feita por pesquisadores da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), com apoio da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), mostra que os produtores das áreas tradicionais terão custo econômico de R$ 68,24 por tonelada de cana neste ciclo, 35% maior do que o custo de um fornecedor das novas áreas canavieiras, estimado em R$ 50,30. Na temporada anterior (2010/11), produzir cana em regiões tradicionais era 25% mais dispendioso do que nas de expansão.

A despesa com a terra ainda exerce grande impacto nessa comparação, diz o pesquisador Carlos Xavier, do Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas (Pecege), grupo responsável pelo estudo.

O valor do arrendamento nas regiões de expansão, como Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, está em torno de 12 toneladas de cana por hectare, enquanto que nas áreas tradicionais esse valor é 50% maior, atingindo 18 toneladas decana.

Além disso, há o peso do ganho de escala, mais presente nas regiões canavieiras mais novas do que nas tradicionais, onde predominam produtores de pequeno porte, observa Xavier.

O resultado é que nessa temporada (2011/12), enquanto o custo da cana de fornecedores subiu 6,99% nas novas fronteiras (de R$ 47,01 para R$ 50,30 por tonelada), nas áreas mais antigas, essa alta deve alcançar 15% (de R$ 59,33 para R$ 68,24).

O estudo do Pecege - realizado desde a safra 2007/08 por um grupo de 15 pesquisadores e com participação de 101 usinas e 19 associações de fornecedores de cana - engloba também custo da indústria e abrange o Nordeste. Esse universo ainda não está contemplado nas projeções da safra 2011/12.

Os pesquisadores calcularam, ainda, a margem econômica da atividade, que considera custo operacional, depreciação e custo de oportunidade. No caso do fornecedor das áreas tradicionais, essa margem foi negativa em 6,9% na safra passada e tende a melhorar nesse ciclo para 0,5%, ainda em terreno negativo. "Isso não significa prejuízo, mas menor remuneração em comparação a outros investimentos", diz. Já para os fornecedores na área de expansão, essa margem, que foi de 10,1% em 2010/11, deve subir para 26,4% no atual.

Mas é preciso lembrar que os custos da safra em curso são "ponto fora da curva", pondera o diretor-técnico da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), Antônio de Pádua Rodrigues. Isso porque os níveis de rendimento dos canaviais estão muito abaixo da média histórica.

"Estamos encontrando 70 toneladas de cana por hectare, quando a média do setor é de 85 toneladas", diz Rodrigues. Ele lembra que se esse rendimento voltasse aos níveis de um canavial mais equilibrado, a região poderia produzir 110 milhões de toneladas de cana a mais na mesma área.

A entidade deve revisar nas próximas semanas os números da safra no Centro-Sul, que responde por 90% da produção brasileira. A estimativa preliminar, diz Pádua, é de que a quebra agrícola e de ATR (açúcar contido na cana) será de 15% no Centro-Sul e de 18,5% em São Paulo, Estado que lidera a produção nacional da matéria-prima. "Há regiões paulistas, como Araçatuba, Ribeirão Preto e Catanduva, que terão quebra acima da média estadual", avisa.

A última estimativa da entidade foi feita em agosto, na qual se previu moagem de 510 milhões de toneladas da matéria-prima, 8,39% menor do que na safra 2010/11. O executivo acredita que a realidade dos custos de produção no ano que vem vai depender das condições climáticas, que podem ser mais favoráveis ao desenvolvimento da cana. "Na atual temporada, oscanaviais sofreram de todos os fatores negativos possíveis: excesso de chuva, excesso de seca, geadas etc", afirma Rodrigues.

Por conta dessa escassez de cana, muitas usinas estão concluindo a moagem antes da média dos últimos anos. Neste momento, segundo Rodrigues, há 20 usinas que já concluíram a safra, a maior parte deve terminar em novembro e poucas vão estender a moagem até dezembro.

Por conta disso, desde o começo da safra até 1º de outubro a fabricação de etanol total (anidro e hidratado) está 16,37% menor em 16,991 bilhões de litros. No caso do hidratado, que abastece diretamente os veículos, essa queda é mais acentuada e chega a 29%.

O consumo também recuou. Segundo o Sindicom (Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis), entre maio e setembro, as vendas das associadas, que representam 60% do mercado de hidratado no país, foram de 2,3 bilhões de litros, 42% menor do que os 4 bilhões de litros registrados em igual intervalo do ano passado. "Essa queda está compatível com os níveis de preço do etanol", disse Alísio Mendes Vaz, presidente-executivo do Sindicom.

Fabiana Batista
Fonte: Valor Econômico

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