Após duas safras com recordes de produção e contando com seguidos anos de preços elevados, a cadeia produtiva da soja no Brasil passa por um de seus melhores momentos, o que deve levar a mais investimentos e crescimento da produção na nova temporada, cujo plantio está se iniciando, disse o presidente da Abiove, entidade que reúne os processadores.
"Não temos os números fechados ainda, mas sentimos que (a safra) deverá aumentar pelo menos 5 por cento, isso talvez sendo até conservador, poderá crescer mais", declarou Carlo Lovatelli, em entrevista à Reuters nesta sexta-feira.
Considerando essa previsão, a produção de soja no Brasil (segundo produtor e exportador global) poderia aumentar para 78 milhões de toneladas no ano-safra 2011/12, contra 74,3 milhões de toneladas da última colheita, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais, que é mais conservadora sobre 2010/11 do que o governo brasileiro, que apontou para a temporada passada pouco mais de 75 milhões de toneladas.
Por outro lado, Lovatelli é mais otimista para 11/12 do que o Ministério da Agricultura, que prevê a nova safra abaixo do recorde anterior.
O presidente da Abiove acredita em produtividades e áreas maiores, enquanto o governo avaliou em sua primeira previsão, neste mês, que o rendimento por hectare será menor do que o registrado na safra passada, quando foi recorde beneficiado por um bom clima.
"O sojicultor está capitalizado, comprando máquinas, implementos, está investindo mais em fertilizantes. Então a produtividade tende a ser melhor...", acrescentou Lovatelli, lembrando que a produção, é claro, dependerá do clima.
REDUZINDO DISTÂNCIA VERSUS EUA
Após uma safra recorde do Brasil em 10/11, na qual os preços oscilaram próximos dos maiores patamares da história na bolsa de Chicago, as previsões da Abiove são de que as exportações do complexo soja (incluindo grão, farelo e óleo) atinjam um recorde de 23 bilhões de dólares no período entre fevereiro de 2011 a janeiro de 2012, aumento de 6 bilhões de dólares em relação ao período anterior.
Esse crescimento nunca foi visto, comentou Lovatelli, há dez anos na presidência da Abiove e com larga atuação no setor, tendo sido diretor da Bunge no Brasil. E com uma safra maior também na nova temporada, disse ele, não haveria motivos para o Brasil deixar de expandir suas exportações, ainda mais em um ano em que os Estados Unidos registram quebra de safra.
"Qualquer quebra de produção, embora não estejamos torcendo para isso, de grandes concorrentes, principalmente vindo dos EUA, pode reverter numa melhor participação brasileira no mercado", declarou Lovatelli.
A queda na safra dos EUA e a forte demanda internacional deixariam o mercado de soja equilibrado, na opinião de Lovatelli, o que indica que os preços deverão se manter firmes em 11/12, mesmo que venha uma nova produção recorde do Brasil.
"Não falta demanda. A minha percepção é de que vamos exportar mais soja do que prevemos (nos últimos meses deste ano)... É provável que fechemos o ano acima da previsão."
Até o momento, a Abiove prevê exportações recordes de 32,4 milhões de toneladas no ano comercial a ser encerrado em janeiro, contra 29 milhões no período anterior.
Para o novo ano comercial, é provável que os embarques cresçam proporcionalmente à safra, disse ele. "A China está firme fazendo posição de soja conosco...", acrescentou.
BIODIESEL, FARELO, CHINA
O crescimento da produção e dos ganhos do setor têm atraído novos investimentos de indústrias processadoras, puxados principalmente para a fabricação de biodiesel, disse ele.
Multinacionais como ADM, Bunge, Cargill e Noble estão em fase de construção ou de projeto de unidades de produção do biocombustível no país.
Segundo o executivo, "todas as grandes empresas estão pensando ou investindo em aumento de capacidade", de olho em um eventual aumento da mistura do biodiesel no diesel no Brasil de 5 para 7 por cento e, posteriormente, para 10 por cento.
O presidente da Abiove alertou no entanto que, se o governo brasileiro elevar a mistura como quer o setor, a oferta de farelo aumentará substancialmente e seriam necessárias algumas ações. Uma ideia é obrigar a China a comprar mais o produto processado para receber garantia de fornecimento do grão.
"Para viabilizar a soja como combustível, tem que viabilizar o farelo concomitantemente, caso contrário sobra farelo, e sobra muito. Eu vejo como forma imediata de viabilizar... é obrigar o chinês a comprar mais farelo, condicionando a exportação de grão", afirmou.
Segundo ele, a China (maior importadora) não teria muita escolha num mercado com poucos países produtores de soja, e poderia aceitar a proposta, após negociação entre governos.
Fonte: Reuters
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