terça-feira, 16 de agosto de 2011

Ex-ministro da Agricultura prevê manutenção de alta nos alimentos




A reportagem do Globo Rural conversou com o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, hoje coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, sobre os possíveis impactos da crise dos Estados Unidos no Brasil.


Nelson Araújo - O que diz a sua bola de cristal dessa vez?

Roberto Rodrigues - Não tenho bola de cristal não, Nelson. Mas o que eu vejo é o seguinte: os fundamentos para que os preços agrícolas continuem acima da média histórica persistem. A demanda continua aquecida, sobretudo nos países emergentes, onde a população cresce muito mais que nos desenvolvidos, onde a renda per capita cresce mais, e a oferta não acompanhou o crescimento da demanda. Portanto, os estoques são ainda baixos, comparados com os estoques históricos. Esses três fundamentos persistem e são determinantes nos preços elevados.

Tem um quarto fator, que é a especulação financeira. Muitos especuladores, muitos fundos de especulação, migraram para a agricultura por causa desses fundamentos. E, ao fazerem isso, o preço sobe mais ainda, ajudam a subir os preços.

Nelson Araújo - Eu, se fosse um produtor rural, ouvindo a sua análise, ia respirar um pouco mais tranquilo.

Roberto Rodrigues - Porém, com barbas de molho. Vou te mostrar um exercício: imagine um morro e um trenzinho subindo esse morro. A locomotiva é o preço agrícola. Os vagões são o preço do fertilizante, o preço do crédito, o preço da logística de transporte, o preço da armazenagem, etc. Quando a locomotiva do preço agrícola sobe, todos os insumos sobem. Todo mundo ganha em cima do agricultor.

Por que a locomotiva está subindo muito? Porque a demanda é maior que a oferta. Até que chega uma hora em que a demanda se equilibra com a oferta. Os estoques ficam no tamanho ideal e os preços voltam a cair. Quando os preços começam a cair e a locomotiva começa a descer, muitos vagões estão subindo ainda. Esse é um pedaço perigoso, que é a hora do endividamento. Você não fecha a conta. Não acho que seja esse ano.

Nelson Araújo - A locomotiva não dobra o espigão esse ano?

Roberto Rodrigues - Não esse ano.

14/08/2011
Fonte: Globo Rural

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