segunda-feira, 1 de julho de 2013

Vai faltar bezerro em MT

Intensificação do abate de fêmeas mostra que criador sem renda reduz plantel


Há pelo menos dois anos, o abate de vacas tem sido intensificado em Mato Grosso. De 2011 até os primeiros meses deste ano o descarte de matrizes segue mês-a-mês com oscilações de percentuais, mas a opção pelas fêmeas é algo consolidado e que acende a luz vermelha no segmento, visto que a manutenção dessa preferência reflete problemas da atividade no Estado que lidera o rebanho nacional de bovinos no país, mas emplaca pelo segundo ano consecutivo uma crise de renda.

As consequências diretas deste aumento da participação das fêmeas nos abates no Estado são de médio prazo e ainda não estão sendo percebidas no mercado. No entanto, quando forem, serão sentidas nos preços dos cortes que deverão ficar mais caros. O chamado ‘apagão de bezerros’, já tratado pelo Diário em novembro do ano passado, deverá ocorrer intensamente a partir do que vem. “Este ano estamos acompanhando uma ligeira valorização do bezerro e até 2015 faltará bezerros no mercado e toda cadeia sentirá o reflexo da realidade atual”, explica Vacari.

Levantamento realizado pelo Instituto de Economia Agropecuária (Imea) a pedido da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) aponta que nos primeiros cinco meses deste ano, mais da metade dos animais abatidos foi fêmea. Ao todo, foram abatidas 1,28 milhão de matrizes, o que representa 53% do total até maio.

Esta evolução na participação das fêmeas nos abates é influenciada por uma série de fatores que compõem a cadeia da carne. De acordo com o superintendente da Acrimat, Luciano Vacari, o início deste movimento ocorreu com os problemas nas pastagens, primeiramente devido à seca em 2010 e depois devido ao ataque de cigarrinhas em 2011. “Com o pasto degradado e sem renda para fazer a recuperação o produtor é obrigado a reduzir o plantel e para isso envia as fêmeas para o frigorífico”.

O prolongamento da situação, entretanto, é de cunho financeiro, explica Vacari. “A função da fêmea é gerar bezerros e não há motivos para liquidar o rebanho quando há lucro na atividade. Porém, os preços pagos aos produtores não remuneram a atividade como deveria e não permitem investimentos”, afirma Luciano Vacari ao argumentar que a crise de 2012 e 2013 é de renda.

REBANHO - A crescente participação das fêmeas nos abates terá como consequência a redução no rebanho comercial de Mato Grosso, atualmente com 28,6 milhões de animais e considerado o maior do país. Levantamento do Imea aponta que, sempre que o abate de fêmeas em um ano equivale a 10% ou mais do total de vacas há uma redução no rebanho total.

Assim, o superintendente afirma que a partir deste ano a redução no rebanho mato-grossense será mais acentuada. “Ano passado houve uma variação de 1,8%, mas até 2015 a redução do rebanho será progressiva e mais impactante para o Estado”.

LUZ VERMELHA - O bezerro é considerado a moeda da pecuária e quando falta bezerro todos os elos que compõem a cadeia da pecuária são influenciados. Vacari explica que quando há aumento no preço do bezerro, a arroba também tende a ser valorizada e consequentemente isso chega ao consumidor final. “Quando há aumento no preço da arroba isso é refletido no mercado de carnes, mas nem sempre a proporção é a mesma. O varejo tende a majorar a valorização, prejudicando o consumidor de carne”.

De acordo com outro estudo da Imea/Acrimat e apresentado no ano passado, o comportamento dos preços da arroba e do registrado no varejo são sempre divergentes, sendo que último se mantém na maior parte do tempo em ascendência, mesmo com a cotação da arroba em baixa.

Em outubro de 2011, quando o estudo foi divulgado, a variação acumulada, a partir de fevereiro de 2005, mostrava uma valorização no preço pago ao pecuarista de 73,73%, enquanto que o aumento da carne bovina nos supermercados no mesmo período foi de 145,82%, diferença entre os elos de 72 pontos percentuais no período.

Diário de Cuiabá

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