quarta-feira, 3 de julho de 2013

Para Abag incentivos ao setor são insuficientes e não chegam aos necessitados




Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Caio como é conhecido, tem 61 anos, é engenheiro agrônomo formado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (Esalq/), com cursos de pós-graduação em Agronomia e em Administração pela Faculdade de Economia e Administração da USP e Vanderbilt University (USA).

Com grande conhecimento no setor deaçúcar e álcool, Caio atua desde 1983 como diretor da consultoria Canaplan. É diretor de Relações com o Mercado das Usinas do Grupo Alto Alegre S/A e sócio da Bioagência, empresa comercializadora de etanol nos mercados interno e externo.

Caio também é conselheiro da Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq), da Universidade de São Paulo; Membro do Conselho Superior do Agronegócio, da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e é presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag).

Em entrevista para a Agência UDOP de Notícias, Caio fala que o principal entrave para o desenvolvimento da agricultura brasileira ainda é a logística e defende a retomada formal da Cide como medida que pode estimular a retomada dos investimentos no setor dabioenergia. O presidente da Abag ainda destacou que os benefícios concedidos pelo Governo Federal ao setor da bioenergia, no final de abril, não são suficientes para a garantia de crescimento e também não devem chegar às usinas mais necessitadas.

UDOP - Segundo a pesquisa inédita encomendada pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), com apoio do Núcleo de Estudos do Agronegócio da ESPM, a consolidação do Brasil como um dos líderes mundiais do agronegócio começa a ter o reconhecimento também de quem vive nos centros urbanos do país?
Luiz Carlos Corrêa Carvalho (Caio): Sim, para nós foi uma grata surpresa o resultado de que 81,3% dos entrevistados dos grandes centros urbanos consideram o agronegócio uma atividade muito importante para a economia nacional.

A pesquisa, denominada "A Percepção da População dos Grandes Centros Urbanos sobre o Agronegócio Brasileiro" ouviu 600 pessoas nas 12 maiores capitais do País. Elaborado pelo Instituto de Pesquisa Ipeso, o levantamento foi feito em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Fortaleza, Brasília, Manaus, Belém, Goiânia, Curitiba e Porto Alegre.

Em regiões, como o Centro-Oeste, onde o agronegócio é mais intenso, o percentual de pessoas que classifica como muito importante a atividade ligada à agricultura é ainda mais expressivo. Em Ribeirão Preto, conhecido centro agropecuário do interior paulista, o levantamento realizado pela ABAG/RP, também mostrou uma avaliação 12% superior à registrada pela pesquisa em nível nacional no quesito importância do agronegócio.


UDOP - Qual foi o objetivo dessa pesquisa e o que muda com os dados levantados pelo estudo?
Caio: O objetivo foi aprimorar o nível de conhecimento e de valorização do agronegócio por quem vive nos grandes centros. Os resultados servirão para nortear nossas ações no sentido de ter uma comunicação que seja menos subjetiva e que nos ajude a entender os pontos fracos para melhorarmos o nosso relacionamento com a sociedade urbana de forma geral. A intenção é termos um trabalho mais perene e não somente pontuado por campanhas episódicas.

UDOP - Logística prejudica a competitividade do agronegócio brasileiro?
Caio: Com certeza. Somos competentes e competitivos dentro da fazenda, mas quando a produção sai da propriedade perdemos em competitividade. Da mesma forma que o Brasil fez uma revolução na agricultura, com aumento médio anual de 3,7% na produtividade nos últimos 20 anos, agora é necessária uma revolução na parte de logística e infraestrutura para resolver os gargalos que dificultam o escoamento da safra e fazem com que um container de grãos posto no porto custe US$ 1.790, contra US$ 690 dos nossos concorrentes mundiais.

UDOP - A Abag está preocupada com os problemas de logística que atrapalham o escoamento da produção brasileira, principalmente neste ano que indica safra recorde?
Caio: Nós, da Abag, estamos trabalhando para que 2013 seja o ano da ruptura dos problemas de logísticas que tanto tem prejudicado o agronegócio brasileiro. Exatamente por esse motivo, realizamos no dia 7 de junho o Seminário "Os Caminhos do Agronegócio - Oportunidades de Investimentos", durante o Construction Congresso, um dos maiores eventos da construção, organizado pela Sobratema - Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração. Além disso, vamos debater novamente esse tema no nosso principal evento do ano, o 12º Congresso Brasileiro do Agronegócio, que acontecerá no dia 5 de agosto próximo. Nosso objetivo é debater como promover uma revolução na área de logística, semelhante a que fizemos com o aumento da produção e da produtividade no agronegócio.

UDOP - Qual seria a solução para a logística se tornar competitiva no Brasil?
Caio: Apesar de estar mais esperançoso em razão das recentes medidas anunciadas pelo governo, como por exemplo, os investimentos na construção de ferrovias, rodovias e armazéns, assim como com a recém-aprovada Lei dos Portos, não acredito em solução no curto prazo para o gargalo logístico. Acredito que, se todos os investimentos se concretizarem, começaremos a ver resultados positivos a partir de 2015. A recente mudança no marco regulatório dos portos deve acelerar as transformações e incentivar uma maior participação da iniciativa privada no setor.

UDOP - Hoje, o principal entrave para o desenvolvimento da agricultura ainda é a logística?
Caio: É um dos principais e mais urgentes. Para se ter uma ideia do tamanho das deficiências é que em alguns estados produtores de grãos a situação de armazenagem é gravíssima. Só no Mato Grosso, que produz 48 milhões de toneladas de grãos, faltam armazéns para 19 milhões de toneladas, um déficit de 29%. Essa deficiência ocasiona a armazenagem sobre trilhos e sobre rodas na época da colheita.

UDOP - Focando no setor da bioenergia, o Brasil é o primeiro e maior produtor deaçúcar, e o segundo maior produtor de etanol perdendo apenas para os Estados Unidos. O que faz do Brasil um país tão competitivo na produção canavieira e dos seus derivados.
Caio: São vários os pontos a comentar, na evolução do Brasil como mais importante produtor: os grandes investimentos em P&D a partir do início da década de 1970 (com o CTC e o Planalsucar) que permitiram ganhos ao redor de 2,0 a 2,5% ao ano nos últimos 30 anos; o know-how consolidado com a cana-de-açúcar no mundo tropical e o total desenvolvimento nacional no setor de bens de capital; o diferencial brasileiro da flexibilidade de fábrica, do etanol e da cogeração de energia elétrica.

UDOP - As previsões mostram que, pelo menos em volume, o setor deve se recuperar nesta safra, como a Abag vê o futuro do setor canavieiro?
Caio: O futuro do setor, quando examinado sob a luz da demanda de produtos, sejaaçúcar, etanol, energia elétrica ou subprodutos outros, é extraordinário. No entanto, as políticas públicas de valorização das externalidades positivas das energias renováveis, são essenciais para esse futuro, pensando em escalas bem maiores de produção, consumo e exportações. O campo dos ganhos de produtividade está bem desenhado, assim como da tecnologia de segunda geração.

UDOP - Quanto representa hoje a atividade sucroalcooleira no PIB brasileiro? Essa participação é suficiente para atender a demanda interna e externa dos produtos produzidos a partir da cana-de-açúcar?
Caio: É cerca de 2% do PIB brasileiro, porque boa parte da demanda não está sendo atendida. Caso volte-se a atendê-la, pode-se crescer mais 1 ponto porcentual no PIB.

UDOP - No final de abril o Governo Federal lançou um pacote de "incentivos" à produção de etanol e recuperação do setor. No seu entendimento, este pacote consegue "salvar" as usinas mais necessitadas?
Caio: Não! Ele é um início de medidas. Sem a volta formal da Cide incidente sobre a gasolina acho muito difícil a meta.

UDOP - Quais seriam, no entendimento da Abag, as medidas ainda necessárias para proporcionar a retomada dos investimentos no setor da bioenergia?
Caio: Maior transparência como no caso da Cide. Leilões de biomassa específicos para o bagaço/palha da cana.

Greizi Ciotta Andrade
Fonte: Agência UDOP

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